Os portuenses já sabem o que a casa gasta, como se costuma dizer. A Amplificasom insiste na façanha de nos proporcionar noites mágicas. Por certo pretendem marcar os nossos corações com cada evento. E este público deixa-se embalar facilmente, não fossem os Mono gigantes naquilo que fazem.

Helen Money foi o veículo de sintonização para uma noite memorável. É incrível como Alison Chesley consegue criar tanta textura e ambiente só com o violoncelo aliado a uma pedalboard.Sim, usa loops e samples de bateria para rechear a sua amálgama peculiar. Pode dizer-se que Helen Money pega num instrumento clássico e faz dele o seu machado de doom. Fiquei particularmente impressionado pela forma como consegue emanar tanta podridão de um instrumento tão delicado. Os acordes soam javardos e cuspidos, e consegue até fazer feedback! Ao mesmo tempo, ameniza a atmosfera usando o arco. Faço uma vénia à criatividade por esta mulher demonstrada.

Cedo chegou o momento mais antecipado da noite – o regresso dos Mono a Portugal. Os japoneses confirmaram que são autoridade naquilo que fazem. Dominam o uso do reverb e dodelay aliado ao tremolo picking, incontestavelmente. A atitude que demonstram em palco é das mais nobres a que já assisti. A actuação é algo mágica, teatral mas não forçada. Recorde-se a forma como Taka agitava a sua mão suavemente a marcar o compasso.

A cada música que passava a audiência rendia-se mais e mais. O clímax foi atingido com o ecoar do gongo. No fim ressacou-se de imediato o encanto, os crescendos e a sofreguidão. Foi de olhos fechados e, por vezes, de boca aberta que a audiência evidenciou o seu pasmo perante a delicadeza e a intensidade dos Mono. Antítese de sensações, em mono.