A vantagem de se fazer post-rock e gostar-se de chapéus de cowboy é maior do que se pode imaginar. Os Monkey3 não estão à procura das coisas bonitas deste mundo através da sua música (nada) etérea. Pelo contrario, com o baixo a marcar os caminhos melódicos de Beyond the Black Sky e a guitarra a tratar de colocar os ambientes no sítio, nem que seja para os destruir com um solo bem rockeiro, este trio suíço, agora com um upgrade na área das teclas para quarteto, agride os nossos ouvidos sem recorrer ao doom para aparvalhar o seu prefixo e caírem num qualquer lugar comum – salvo raras excepções, como Gate 57.

Os Monkey3 desertaram das montanhas brancas do seu país para se apaixonarem pelo deserto, mas toda a cultura de apreciação das paisagens continua a correr-lhes no sangue de Beyond the Black Sky, derramado sobre stoner, com riffs potentes como os carros que usam para as suas intermináveis travessias e solos de rasgar. O resultado traz-nos belos ensaios sobre esta combinação mortífera, de tentar reter o relevo e as sinuosidades do deserto na memória ao mesmo tempo que se antecipa o horizonte com a velocidade do headbang, como a primeira Camhell, a fustigar uns Tool, K.I. e Motorcycle Broer, já sedentos de desert-rock e, claro,Through the Desert, o claro exlibris desta dualidade.

Eventualmente, ouvir este registo, catapulta-nos para bem longe da nossa órbita. Uma vez a gravidade zero, os suíços são reis, sem sombra de dúvida, e é de comprovar isso que a última faixa se trata. Com grandes riffs e momentos ambientais cheios de vácuo, os Monkey3 conseguem atingir aquilo a que se propõem: juntar as vibes do rock clássico com a sua abordagem mais moderna.

E é assim que se percebe que, entre o deserto e o espaço, não há grandes diferenças. Uma vez lá, a probabilidade de encontrar alguém é tão pequena quanto a de sabermos com exactidão para onde vamos. Não vale a pena pedirem indicações, é deixarem que os Monkey3 vos levem para onde tiver que ser.