O movimento musical dito “mais extremo” está carregado de bandas que hasteiam bandeiras ideológicas nos seus temas. Basta recordar o passado para perceber que sempre existiram fortes e distintas mensagens que integraram diferentes quadrantes. Zao,Morning Again, Minor Threat, Dead Blue Sky, Earth Crisis, por aí em diante. A lista é extensa e o tipo de crença avultada.
Com os Momentum e, mais especificamente com Herbivore, aquilo com que se pode contar é uma total impregnação de mensagens nos seus temas, neste caso, dos direitos dos animais. É impossível não se sentir um enorme apreço por todo este tipo de pessoas que expõem de maneira tão directa as suas formas de pensar e os contextos em que se movem. Aliás, deve ser um extremo orgulho para os britânicos terem colocado em disco os seus pontos de vista e opiniões e essa deve ser uma enorme demanda para quem acredita de forma tão recta neste tipo de conceitos. Mas escutandoHerbivore aquilo que se sente muitas vezes é se essas palavras conseguem passar para quem os ouve e que, apesar da simpatia que nutra pelo movimento, não o siga nem cumpra com os seus ideais.
Pegando neste ponto, nota-se que o disco se torna demasiado curto -não que isso seja um problema, veja-se o caso de Abandon All Life dos Nails-, mas com os Momentum sente-se a necessidade um prolongamento, de mais faixas e de um contínuo de intensidade. O novo longa-duração podia, desta forma, ser um enorme disco, à semelhança do anterior Whetting Occam’s Razorque, apesar de não ser tão directo, tinha uma parte melódica que o tornava mais apetecível. As malhas eram mais longas, instrumentalmente mais fortes e, diga-se directamente, melhores. O hardcore espaçado, carregado de partes atmosféricas caiu e, desta feita, aquilo com que se conta é algo mais espontâneo. Contudo, alviceras para a versão de Meat is Murder dos The Smiths, um tema incrível e a melhor interpretação alguma vez feita de uma faixa do extinto colectivo de Manchester.
Herbivore cumpre certamente para os Momentum o primeiro desígnio de qualquer artista ou banda: um disco que transmita algo pessoal, íntimo, e com o qual exista uma identificação muito estrita. O segundo desígnio – conseguir uma apropriação musical de quem os ouve – é que pode não ter sido tão bem conseguido.