Quando abandonámos a Filarmónica Moitense na noite de sexta, chovia que se fartava, o que nos fez temer uma tarde de chuva para o início do segundo dia deste Moita Metal Fest. Mas não. Estava até um belo dia, o sol estava quente e convidava os mais pontuais a circundarem o recinto do festival, preparando o espírito: sentia-se o aroma a haxixe, as litrosas estavam empunhadas. Lá dentro pouca gente ainda, quem toca são os Brutal Brain Damage, trazendo de Ourém um grindcore com toques de industrial que não deu descanso à tropa na linha da frente, já depois de um início de tarde à responsabilidade dos Awaiting The Vultures, Nuklear Infection, Shape e Primal Attack.
O concerto foi curto e cansativo: demandada geral até ao bar para combater a indesejada desidratação. Menos de quinze minutos é tempo suficiente, pois os Dementia 13 já sobem ao palco para um concerto consensualmente bem recebido. A banda encontra bastantes fãs neste MMF, que vão aderindo à frente do palco incentivados pelo portentoso vocal do colectivo portuense. Não houve intervalos nesta actuação, os Dementia 13 trouxeram um death rijo, onde a voz de N.Lima é aterrorizadora. Em suma: perfeita apoteose para antever o intervalo do jantar que se seguiu, devidamente embalados por uma cover de Six Feet Under.
Muito frio se sente a esta hora, mas os convivas estão alegres e vivaços, muitos até exibem os braços nus, o que merece destaque aqui no PA’ pela coragem. Tempo de dar trabalho aos homens das bifanas e de, para quem optou pela alternativa da marmita, merendar à luz da noite da Moita enquanto se aguarda pelas 20h30. Apenas dez minutos passaram dessa hora quando os The Firstborn lançaram os primeiros acordes – que eram mesmo muitos: esta banda tem na sua formação cinco elementos com instrumentos de cordas (incluindo uma citara eléctrica). Foi-nos complicado perceber bem o objectivo da banda neste ponto, com todo aquele avant-garde a soar um tanto ou quanto emaçado. No entanto, o concerto correu sereno, sem grandes manifestações, porém também sem desagrado, perante um Lions Among Men que parece soar melhor em disco. Omission foram os que se seguiram, única banda internacional do MMF deste ano, vindos de Madrid. Manifestamente feliz pela vasta plateia que tinham em sua frente, o vocalista interagiu bastante nos intervalos curtos de um thrash ablackalhado, cortante e de voz absolutamente dilacerante.
São 22h, o concerto dos Omission fez muita gente sair enquanto durava, a mesma que agora entra para ver Web, banda que vem do Porto e traz consigo uma falange de apoio considerável desde o norte. Tendo um vocalista que é certamente grande fã de James Hetfield, o som tem o seu quê progressivo que não lembra Metallica, mas que se expande por outras vertentes mais elaboradas. Um bom concerto, muito mosh; a banda atacou canções rápidas, vincando a sua incumbência para o thrash, num concerto também ele rápido e que meteu muitos a berrar os refrões de World Wild Web, já um clássico cá pelo underground.
Os Revolution Within não perderam tempo e pisaram um palco ainda quente pela rapidez anterior. Também vindos do norte, a banda, olhando para este cartaz de 2013, foi a que sonoramente mais se assemelhou às grandes coqueluches moitensesSwitchtense. Por isso mesmo, e lá pelo meio, Hugo Andrade foi até palco para berrar com Raça, numa bruta coligação, que não deixou que a plateia parasse de girar em torno do groove metálico que se escutava. Mais uns telemóveis caídos no soalho e outras palavras terminadas em “alho”, todas de elogio a um excelente ambiente montado em torno do quinteto.
A banda que se segue consagra a preocupação da organização em incluir projectos fora do metal – For The Glory, uma banda de hardcore, facto frisado pelo vocalista Congas, num concerto que também obrigou Hugo a abandonar a posição de organizador e a dar uso às suas cordas vocais, em Life’s A Carousel. Ser uma banda de harcore num festival dedicado ao metal foi apenas um pormenor na actuação: atacaram os temas com voracidade (que diacho de intro!), correspondida tenazmente pelos convivas endiabrados, entre pancada, side to sides, berros ao microfone e os habituais stage dives, bem mais descontrolados do que se tinha visto noutras bandas. O concerto acabou com uma grande parte do público da linha da frente em cima do palco a gritar os últimos versos de Survival of the Fittest.
A encerrar a noite, mais uma banda veterana. Os Simbiose trouxeram o seu crust furioso, que merecia bem mais receptividade do que aquela que encontraram pela frente. Compreendemos: o grupo começou quase à hora prevista de encerramento e o cansaço acumulado por tanta cerveja absorvida e suor despendido fez os seus efeitos. Mas alto lá: tiramos o chapéu aos Simbiose por uma robustez tramada, que graças ao sistema de som utilizado na SFEM foi possível sentir em toda a nossa epiderme. Soube bem o privilégio: não são assim tantas as vezes (são mesmo raras) em que podemos assistir a uma banda aplicar o seu crust com tamanha definição. Valentes.