O PA’ defende o atraso dos Dealema, sem este nunca poderíamos ter trocado dois dedos de conversa com a rapaziada do 2º Piso. E não fomos os únicos: só para esclarecer que isto do pré-concerto não é só amena cavaqueira. Por volta das 21h30, quando chegámos, já alguns  fãs aqueciam o corpo e espírito, com o patrocínio do Pingo Doce, perante uma agreste temperatura e o olhar calmo do Tejo. No interior ainda quase nada se passava, só uma hora depois – ou seja, trinta minutos após a hora estabelecida – é que se pôde verificar a boa sala que foi o TMN Ao Vivo a noite passada. Alguma impaciência perto das 23h, estava já DJ Guze em palco nos preparativos, quando passa na lateral de volta ao back diz que “está quase”. E não foi preciso esperar muito mais, após uma intro de voz radiofónica, entra sem grandes cerimónias o quinteto Dealemático: DJ Guze, Maze, Expeão, Mundo e Fuse.

Os quatro MC’s posicionaram-se na frente de combate, Guze na rectaguarda, inicia-se a marcha do Expresso com “Viver”, proveniente da EP “Arte de Viver”. O primeiro estrondo surge logo à segunda, quando o denso baixo liberta o beat pesado de “Infieis” e os flows fugídios de Mundo e Maze, no meio o escárnio de Fusee no fecho a assertividade lírical de Expeão. Uma viagem mental até à “Escola Dos 90” traz os primeiros coros num refrão que tem tanto de catchy como de sapiente; do disco homónino, “Bófiafobia” é recebida em prantos, um manifesto que a poucos deixa indiferença. O clima está em altas, os Dealema não precisaram de muito para conquistar a sala e logo a seguir ainda cuspiram “A Cena Toda”, o eterno hino de comunhão entre a banda e os seus fãs teve o refrão nos pulmões de praticamente toda a sala. Mas a viagem emocional a 2003 não desacelarou, ainda foi chamado o primeiro single do conjunto com a excelente “Talento Clandestino”.

O EP “Arte de Viver” surge novamente para se dar inicio a “Mais Uma Sessão”, um show de skill onde cada rapper é chamado à vez pelos restantes, partindo gradualmente a casa. No final é introduzida a primeira pausa na actuação, com Mundo a dirigir-se ao público agradecendo a quem de facto “gastou da sua pasta” para ali estar. Pede barulho, e a todos os presentes dedica a próxima malha – “Tributo” – o sentimental hino à amizade expressou-se indelével, nos rostos e nas vozes dos convivas. Depois, com um efeito surpresa exacto – as luzes emsombreceram-se e um beat entrou – um uníssono característico de surpresa e singularidade indicou a repentina entrada na “Sala 101”, onde écoa o mundo literário de George Orwell em “1984”. O momento de mais forte elevação emocional, no final dois dedos no ar erguidos por todo o recinto do TMN. “A Grande Tribulação” surge pela primeira vez no set com “A Última Criança”, a ser consensualmente bem recebida, de seguida foi “Léxico Disléxico”, anunciada por Fuse, som onde Mundo aplica incríveis flows que ao vivo não perdem qualquer brilho.

Novo momento de pausa, apelos a barulho, o habitual espicaçar das hostes, aproveitado para anunciar um convidado em palco:Ace é chamado para dar voz a “Bom Dia”, o primeiro single de “Alvorada Da Alma”, com saída acunciada para 16 de Dezembro.Ace saiu de palco para voltar logo a seguir, chamado por Mundo, deu-se inicio à fase Wu-Tang: momento em que cada MC do colectivo se apresenta em voz própria. Maze foi o primeiro em “Brilhantes Diamantes” com Ace encarregue do refrão; de rajada surge “B.D.A.P” com Fuse no seu estilo único, parafraseandoValete: “o tal MC com um fusível a mais que o resto dos liricístas”. De seguida somos transportados até ao “Bairro” onde entre flow e colunas de betão Expeão nos guiou; Mundo fecha esta fase no beat veloz de “Crise de Identidade”. Tal como referiram mais cedo em entrevista, a “Alvorada da Alma” que aí vem irá representar o regresso dos Dealema à luminosidade que decidiram mostrar em “A Arte de Viver”, como tal é anunciada a entrada de NBC em palco para dar voz à faixa “Vive”. No final nada mais explicativo que “Nada Dura Para Sempre”, o hino Dealemático nascido com “A Grande Tribulação”, encerra com emoção nas rimas e na voz deAna Correia, retribuída depois pela malta com barulhenta e sincera ovação.