Enquanto aguardamos por um álbum da dupla Steven Moore–Daniel O’Sullivan, Fluid Window é um exemplo exímio daquilo que estes dois cérebros, nada conhecidos nestes campos, conseguem fazer com os humildes propósitos da pop. O resultado, inebriante, é de uma riqueza constrangedora para a concorrência, que deveria meter muita coisa em perspectiva: afinal, como é que alguém consegue ir buscar os sintetizadores dos anos 80 para fazer melodias tão típicas da electrónica dos últimos 15 anos e ainda lhe trazer mil-e-um elementos de géneros não orgânicos para fazer um registo que pode ser resumido na palavra “sensual” ou na sua prima “lânguido”? É tão complicado de dizer que até parece impossível. Milagre, não. Miracle.
Fluid Window mostra dois génios experimentados na ciência de inventar e reinventar a música de elementos progressivos e vanguardistas concentrados em trazer estas suas características maiores para um género de fórmulas básicas. O que só prova que não há limites para as formas que estes cânones podem assumir, como resultado final. De sample em sample, sempre supra-espaciais, quase a lembrar Daft Punk, a colocação das batidas e o acrescento de mais sons sintetizados é o que dita a evolução da música, demonstrando uma inteligência de produção que mata as saudades que se possam ter do trabalho que Quincy Jones, por exemplo, fazia nos discos do rei Michael Jackson.
O resultado de tudo isto bebe, indubitavelmente, dos Depeche Mode, sem nunca chegar às depressões dos britânicos. O tabuleiro de Miracle não tem as vicissitudes da droga, nem as dificuldades de uma vida insegura, visto que assenta, quase exclusivamente, em ambientes sonhadores, contagiantes de uma alegria alucinada e pouco plausível.
É, resto, a difícil digestão das paisagens computorizadas de Fluid Window que, aliada à caramelizada vontade de consumir as melodias da pop que faz deste primeiro EP um registo aliciante. As suas utilizações serão sempre múltiplas, e vão desde a dança pura à simples sensação obcecada pelos pormenores, tão de génio em Sunstar como em Sunshine Hall ou Breathe.