Comecemos pelo fim e pelo que será também o mais óbvio. Quem viu os Metz na ZDB testemunhou a banda naquela que terá sido a melhor oportunidade. O trio canadiano pareceu ainda estar a viver toda a relevância que lhes tem sido destinada e, como tal, cada concerto assemelha-se ao último e único das suas vidas. Na Galeria trespassou-se essa concepção a cada destilar de energia.
Os Metz infligiram a aprovação de uma tareia. No fundo, como quando em miúdo se chegava a casa e nos era atribuída qualquer falta e isso resultava num belo tabefe. Se muitas vezes se poderia questionar o sentido de tal acção, desta feita a violência física tornou-se desejável e, logo à terceira malha Get Off, começou o rebuliço que se foi mantendo ao longo de todo o curto – mas suficiente – tempo em que estiveram em palco.
De Toronto não veio nenhuma complacência para com o barulho. Alex Edkins na guitarra foi o mais claro exemplo dessa virtude e tornaram-se contagiosas as “litradas” de pujança que produziu. Foi impossível não seguir as marretadas de Hayden Menzies na bateria e não sentir que cada uma delas fosse um estímulo para o movimento corporal.© Luís Martins
Com Dirty Shirt explicaram que a sua letra emana a dança e a necessidade de passar ‘um bom bocado’ – bom, ao que esclareceram, todas elas se baseiam nestes factores-, mas isso pouco importou, o sufoco e as talhadas de ruído concentraram todas as atenções.
Repetidas vezes perguntaram pelo suor do público que esgotou a ZDB. Com Headache, Sad Prick e Wet Blanket, esse pedido concretizou-se e, a avaliar pelas paredes húmidas e pelos vidros embaciados do aquário, foi de supor que não fossem apenas esses objectos inanimados a sofrerem com as gotículas sebosas. Pelo contrário, todos os corpos humanos cederam à tentação de se amotinarem contra a resistência dos poros.
Com Wasted confirmou-se que o barulho, a distorção e a gritaria em doses inexplicáveis são justificadas e as cordas partidas da guitarra comprovaram que, de facto, o máximo de volume consegue mesmo orientar melhores resultados. Que o diga o baixo de Chris Slorach e a rudeza que dele provinha, ou a guitarra deAlex de encontro ao tecto, como um integrante do som e da euforia que se estabeleceu.
Depois de saírem do palco e de faltar a faixa Rats para concluir a interpretação na íntegra do álbum homónimo, houve necessidade de pedir ‘emprestada’ a guitarra dos Cangarra. Término em beleza com mais uma corda amolecida, mas com a noção que, com osMetz, nada fica para trás sem as devidas consequências. Voltando ao início: quem os viu que se congratule, quem não o fez que se vá mutilar.
Na primeira parte, os portugueses Cangarra assemelharam-se a um serviço de urgência em movimento com a necessidade de chegar com a maior brevidade possível ao destino. Sem a recorrente entrega entre os crescendos e decrescendos, o duo de bateria e guitarra traduziu-se num ritmo alucinante, rápido e pesado, reflectindo isso, num prazeroso frenesim musical.