Foi para uma casa bem lotada que os Men Eater tocaram em Coimbra, onde parecem reunir um público cada vez mais fiel e que cumpre todos os requisitos de quem está a curtir uns bons riffs: abana a cabeça, bate o pé e manda o grito estratégico da parte sonante da letra a meio de cada música. No rescaldo da actuação dupla com Torche, em Lisboa e depois no Porto, o quarteto fez um desvio no regresso a casa para actuar no States Club e não se pode queixar desta decisão. Nem quem assistiu às suas consequências.
Se cortar este último pormenor, é possível afirmar que os Wild Tiger Affair não arrancaram um mau feedback de uma plateia que estranhava a banda por inteiro. Vindos de São João da Madeira, ainda com alguns nervos à flor da pele, o quarteto levou a sua lição bem estudada no set que tocou. Os riffs soam nas músicas, que estão estruturadas como mandam as regras, e foram suficientes para arrancar alguns cabeceamentos enérgicos de um público ainda flutuante.
No entanto, quem se encontrava em frente ao palco não arredou o pé e sorveu todas as músicas dos Wild Tiger Affair, que justificaram a sua presença a abrir para Men Eater, nem que seja mesmo pela influência que estes últimos parecem exercer neles. Mentiria se dissesse que a banda não pede rodagem – mas isto quer apenas dizer que precisa de mais concertos para meter cá para fora o que tem.
Rodagem que, por outro lado, já acusa no conta-quilómetros dos Men Eater. Com o à-vontade que o pequeno palco permitia, Mike Ghost e companhia atiraram-se de cabeça a Bracara, uma das músicas do próximo álbum, como têm vindo a fazer nos últimos dias. As impressões não podem ser as melhores – principalmente, por ainda ser naquela fase em que o som se está a compor e os ouvidos a habituar à confusão –, mas parece que houve outra viragem na composição e os Men Eater se voltaram um pouco para Hellstone e para a exploração mais minuciosa das melodias, em detrimento de um Vendaval directo.
Mas, claro, esse Vendaval continua a ser uma aposta segura e, ainda com o som naquela desorientação inicial, socorreram-se do risco corrido pela estranheza da nova música e atacaram o público com os “Burn!” de Man Hates Space. Parcos em palavras, mas sem esconder o prazer de estar a tocar nos States (agradecendo, em tom de piada, o esforço do público português por se deslocar até tão longe), os Men Eater centraram a actuação no último álbum editado, mas foi com Lisboa que iniciaram o último fôlego do set normal, cuspindo de seguida o combo First Season,Heartbeating Locomotiva e Last Season, que valeu curtos e sonoros pedidos deencore.
Aqui, podemos dizer que se fez história, ou que se recordou um passado que começa a fazer falta: apesar de ter acedido rapidamente ao pedido da audiência, o encore que foi genuíno. E, para mim, não há Men Eater mais na sua génese do que emDrivedead, guardada bem para o fim.