O Cais do Sodré foi a primeira paragem da apresentação oficial de Gold, o terceiro álbum dos portugueses Men Eater. Muito bem composto, o MusicBox foi alvo daquilo a que podemos designar por “gold(en) shower”, com a plateia a granjear o direito de ouvir muito do que é esta nova etapa da carreira da banda.
Os Moe’s Implosion, que atravessaram a pé o Tejo desde o Montijo, trouxeram um funk rock speedado por um post-hardcore já bem desenvolvido. Carregados de adrenalina, os cinco músicos deram um concerto de abreviatura em relação ao seu álbum de estreia, que sucede ao EP Morning Wood, aproveitando aquele que foi, provavelmente, o melhor som da noite. Sem qualquer embaraço por estarem a enfrentar um MusicBox muito bem composto, os Moe’s Implosion desfrutaram da oportunidade, culminando o concerto com uma descarga rítmica que deu para o vocalista fazer stage dive e lançar confettis para o ar. Ficaram na retina.
Já os Wild Tiger Affair sofreram bastante com o som, o que lhes limitou o potencial da actuação. Praticando aquilo que se pode designar por um rock a abeirar os trajeitos stoner, e vivendo, por conseguinte, do peso e fuzz das guitarras, a banda de São João da Madeira acabou por se ver embrulhada num som pouco esclarecido, que atacou precisamente os dois guitarristas da banda. Para além disso, os Wild Tiger Affair não conseguem, até pelo género musical em que inserem, transpirar tanta energia quanto os Moe’s Implosion, o que também pesou na reacção apagada do público.
A aparição dos Men Eater aconteceu já era 13 de Maio, não numa azinheira, mas no palco do MusicBox – onde também apresentaram Vendaval, há dois anos atrás. Desta vez, o motivo foi Gold, o 3º álbum da banda, que foi de imediato introduzido pelas quatro primeiras faixas do setlist (uma delas o single Sustain the Living). Novamente, o som revelou-se pouco equilibrado, com guitarras e bateria a estarem sobrevalorizadas em relação ao resto. Ainda assim, deu para tomar o primeiro gosto ao álbum, percebendo-se de imediato o foco dos Men Eater numa criação musical não tão “in your face”, mas mais virada para a exploração de momentos ambientais, construida sobre uma base rítmica não tão linear como é tradicional.
Gold mostra-se, depois de bebidos os primeiros tragos, como um disco que promete trazer diferenças claras em relação à restante carreira da banda. E isso torna-se por demais evidente quando os Men Eater decidem pegar em Black ou First Season, já a meio do set. As afinações mudam, as estruturas alteram-se, a postura também. O público, mais habituado a ouvir Hellstone e Vendaval, responde com mosh, crowdsurf e sing along. A já clássica Lisboa, tocada no coração da cidade que lhe dá nome, encerra nostalgicamente a parte do concerto dedicada a recordar o passado.
Sem demoras, a banda apressa-se a voltar a Gold, de olhos postos no que o futuro lhe reserva. E quando se ouve o saxofone a meio de When Crimson Trips, apercebemo-nos definitivamente de que esse futuro dos Men Eater está comprometido com um certo experimentalismo, até. É distinto, não se entranha facilmente, mas aguça a curiosidade para ouvir Gold mais do que uma vez –dficilmente este será um álbum no qual pegamos e colocamos de parte logo de seguida, depois da primeira audição.
Se este concerto servia para nos abrir o apetite… Funcionou.