Poderia, se ela ainda existisse, ter este disco recebido bênção convexa da Ama Romanta? É questão de ligar ao João Peste a perguntar. O pós-modernismo bolboso como um quadro de Jean Dubuffet que se vai pintando a si mesmo numa colónia indistinta de gordas gotas e advérbios de tinta com cinto largo, colados a cuspe penitente nas fendas que a tela abre – como as garotas sarapintadas pelo negro em Teerão me vão abrindo os braços em Shahr-e No – monta-se profano na espinha dorsal de “Scorpio”. É trabalho ministerial de revolução, um secretariado da sublevação industrial de Bristol ao Barreiro com os pulmões cheios daquele carvão que raptou Leipzig comunista numa só nuvem. Tum-tum-tum, o baixo céptico, toc-pa-toc, o desfraldado compasso mecânico que se encontra às escondidas com as sílabas canhotas, numa perpendicular à Calle de Alcalá para incendiar o Palácio Real.
E para quê tanta sofreguidão?
Os brados do Luxúria Canibal – esse ateu prelado que parece sempre ventríloquo de uma meta-realidade secreta; o Rosacrucianismo de Adolfo, onde Frater C.R.C. é substituído pelo fantasma de Kropotkin – ouvem-se proclamados no “Mausoleum” prenhe de versículos franceses, germânicos, britânicos. Epígrafes que se acumulam na horizontal como camadas de pó maquinal no estertor capitalista, porque os Mécanosphère voltaram para lhe cortar a garganta, a esse faustoso deboche sacerdotal entre o património e a especulação. A bourgeoisie que fica estéril, alguém que lhe arranca o ducto deferente à dentada enquanto atrás as “Estatísticas Satânicas” passam garrafais em letra Arial amarela, nas masmorras digitais de Wall Street e nos imperiais LCD de Changi, o aeroporto-rei onde converge a diplomacia realpolitik e A Morte do Avarento num cocktail Mai Tai. Pois é, eles voltaram.