Foi uma sala cheia que se uniu a Mazgani para comemorar o recém-editado Common Ground e receber directamente do próprio as suas músicas. Durante quase hora e meia, o carisma e a entrega do luso-iraniano agitou e contagiou os presentes, subindo em intensidade ao longo do concerto para culminar em apoteose.

A noite até começou serena. Pouco passava da hora programada quando Shahryar Mazgani subiu ao palco apenas acompanhado pelo guitarrista Sérgio Mendes. Oportuna, depois de um dia chuvoso, a primeira canção, Into the River, pediu-nos para “deitar ao rio a dor” e embalou-nos para o que se seguiria. Os primeiros momentos, com Common Ground, Hold Me Awhile (já com toda a banda em palco, agora enriquecida pelos teclados de Margarida Campelo) e Distant Gardens, pareciam prometer um concerto intimista, recheado de silêncios, com um instrumental discreto e suave a dar espaço à voz quente de Mazgani. A timidez inicial do cantor, aparentemente mais contido e apreensivo do que o habitual, não ajudava a alterar a previsão. É com Your Voice Grows Dry que se começa a desvendar uma vivacidade que não nos abandonará mais até ao fim do espectáculo. Quando Song of Distance entra em cena, com uma Rebel Sword mais rockeira do que a original, a calma do declamador dá lugar ao arroubo do pregador e Mazgani liberta finalmente os pulmões. Mesmo quando a magnífica Wasteland nos traz de volta a Common Ground, proporcionando o momento alto do novo álbum ao vivo (juntamente com Absent Lover e Blow Wind), é nesse enlevo que permanecemos.

Entre os temas antigos revisitados, não foi apenas Rebel Sword a revelar uma nova vida. Alguns acrescentos deram um vigor renovado às músicas de Song Distance (o primeiro álbum, Song of the New Heart, ficou totalmente de fora da setlist), tornando-as mais pujantes. Moonless Garden, por exemplo, encontra outra profundidade pelos delays da guitarra de Sérgio e a catarse de Mercy chega-nos com ainda mais força, irrompendo numa fúria quase apocalíptica. É por isso sem qualquer surpresa – ainda combalidos por uma Loving Guide arrebatadora, conduzida até à explosão final pela bateria de Nuno Pessoa – que ouvimos Mazgani declarar, em tom de provocação, estar farto de baladas.

Com Broken Tree é anunciado o fim do concerto, ao qual se segue um encore, pedido com veemência pelo público, composto por Last Words e Strike Your Drum. E a noite não poderia ter tido um final mais grandioso do que com esta última música: num agradável ambiente de celebração, Mazgani saltou para o meio do público e incendiou-o com uma energia de gospel, levantando toda a gente das cadeiras para dançar e comemorar uma noite rejuvenescedora. Foi nesse final de verdadeira consagração que se encontrou, finalmente, o “chão comum” para a comunhão entre o cantor e aqueles que ali estavam para o ver.

No fim, a única coisa a lamentar foi a exclusão de Dog at your Doorda setlist (a única música de Common Ground que ficou de fora – e logo uma das mais fortes), opção apesar de tudo compreensível, pois o ambiente festivo que transbordou do palco para a plateia não deixava espaço para a melancolia da música.