O Post-Amplifest é curioso. Depois de toda a azáfama de sensações vividas no Amplifest, surgem três eventos que ainda sugam os ecos do festival, conferindo uma magia especial a cada uma das noites. Esta última de despedida pertenceu aos britânicos Maybeshewill.

As hostes iniciaram o reboliço com os Memoirs Of A Secret Empire. A jovem banda de Vouzela apresentou quatro faixas que alternavam entre o arremesso de brita e a maleabilidade do cimento. Esta dinâmica foi brilhantemente explorada em alguns casos. No entanto, a transição entre estes dois estados foi por vezes brusca, não deixando que estes pudessem conviver e consumir o oxigénio necessário. Na última faixa foi atingido um bom clímax e ficou o desejo de que a banda faça erguer os andaimes para que retorne no Amplifest 2015 com outra pintura.

Por falar em pintura, era a vez de os Flood Of Red tomarem conta da sala 2 do Hard Club. A banda agrega características que se estranham num primeiro contacto. As faixas têm transições que parecem ter sido coladas com cuspe. Para além disso, parece haver o desejo de querer misturar muita substância mas o resultado é algo indiferenciado. As vocalizações parecem também viver num mundo à parte do instrumental. Apesar de o concerto ter estado a léguas da transcendência, cumpriu a função de sintonizar o público numa sonoridade mais próxima da do acto seguinte – algo mais sonhador, mais fluído e menos martelado.

Os Maybeshewill subiram ao palco e contagiaram de imediato a audiência com a faixa “In Amber”. Disseminaram o seu rigor técnico mantendo uma excelente presença em palco. Os movimentos genuínos e fluídos do baixista representavam a energia peculiar da banda. É certo que os Maybeshewill exploram uma fórmula que alguns dizem já estar gastas mas, ainda assim, surgiu um sentimento vibrante e inexplicável naquela sala. A informalidade, a ternura, a fluidez e a sofreguidão contida talvez sejam os elementos que o explicam. Até o palco estava bem decorado – a capa do mais recente álbum “Fair Youth” projectada e as luzes sincronizadas com a música foram um deleite. A banda parecia acompanhar o vibrar do público e saiu do Porto com o sentimento de missão cumprida.

Assim se encerrou o ano 2014 da Amplificasom, o mais preenchido até à data presente. Não é legítimo ter expectativas futuras, pois a promotora já nos pregou as mais diversas partidas cardíacas. Coincidência, ou não, foi adequado nos terem deixado melosos e tranquilos com os Maybeshewill. Até para o ano.