Diego Maradona, assim que surgia um jogador argentino bom tecnicamente e fisicamente franzino, catalogava-o como “o meu sucessor”. As suas premonições acabaram com o surgimento de Leo Messi – El Pibe tinha finalmente acertado. No mundo do desporto estas adivinhações são o pão nosso de cada dia. Mas na música não é diferente. Os Mastodon, desde que começaram a receber atenção, fruto de digressões com Tool ou Metallica, tornaram-se num desses casos. Tanto a crítica musical, como o comum adepto de metal, passaram a olhar para os americanos como portadores da tocha mainstream que James Hetfield e Bruce Dickinson outrora acenderam. Porém, os Mastodon não querem ser somente atletas de fundo ou especialistas nas provas de velocidade. Eles querem experimentar de tudo. E em relação às expectativas que neles são depositadas… Estão-se marimbando.
Não só o admitem em entrevistas, como, agora, o confirmam em definitivo com The Hunter. Este quinto álbum parece funcionar como uma descompressão, depois de tudo que representou Crack The Skye – um disco que, apesar da sua qualidade, ter-se-á perdido no tom demasiado epopeico. Dois anos volvidos, decidiram atirar esse peso borda fora e apostaram numa atitude mais “laid back”.
Se a faixa de abertura, Black Tongue, ainda recupera algum travo costumeiro, Curl of the Burl revela toda uma nova postura, feita de riffs catchy à Josh Homme e uma estrutura bem simples, quando comparada com a besta progressiva que Mastodon transportava às costas.
The Hunter está igualmente distante do avassalo sonoro deRemission ou Leviathan. Apenas Spectrelight (que marca nova participação especial de Scott Kelly num registo da banda de Atlanta) nos faz recordar esse período cronológico.
De resto, os Mastodon aglomeram neste álbum aquela que é provavelmente a série de músicas mais fáceis de agradar a um ouvinte que não tem paciência para o metal; sem, no entanto, comprometerem o seu distintivo som. Há reflexos do “sludge sorridente” à Torche em Blasteroid e também há momentos reminiscentes de Pink Floyd: The Sparrow faz lembrar Hey You e o início de Creature Lives é decalcado do louco gargalhar de Speak To Me. Tudo isto assente nas guitarras pouco ortodoxas e na brilhante dupla rítmica constituída pelo baixo de Troy Sanders e pela incorrigível bateria de Brann Dailor.
Ao contrário do que aconteceu com os anteriores três discos, The Hunter também se afasta de uma ideia conceptual; e isso nota-se na facilidade com que passamos de um momento sludgy para um mais contemplativo e para outro quase radio-friendly. Não há óbvias ligações entre faixas, mas a coesão estrutural mantém-se e isso representa um dos pontos mais fortes deste quinto trabalho do grupo. Nunca nos sentimos desamparados e não arriscamos a indagar por que raio certa música faz parte da tracklist.
Em suma, The Hunter traz para a mesa de jogo toda uma nova série de trunfos. Trunfos fortes, refrescantes, pouco usuais, mas aplicados com certos maneirismos que nos são familiares desde 2002.