Quando é de Master Musicians of Bukkake que se fala, há que fazer um óbvio ajuste a toda a opinião que se tenha, porque a música destes senhores joga num campeonato muito próprio. É a música dos meios-termos, entre a ciência mais explorada e os dogmas inquestionáveis e puramente inigmáticos.
Não quero com isto dizer que toda a música deste super-grupo, que reúne membros de Earth, Grails, Burning Witch, Sunn O))) e Secret Chiefs 3, é baseada em meros preconceitos irreflectidos. Não, Master Musicians tocam música cerimonial colectiva com fortes raízes no sudeste asiático. Há fundamento para esta loucura, isso é certo. Queria dizer, sim, que a música deste colectivo assenta em coisas maiores do que a compreensão imediata. Estranha-se e entranha-se, mais ou menos. Uma aplicação mais correcta para este pedaço de sabedoria popular seria: entranha-se e depois estranha-se. A música de MMB é uma experiência única que a tal relação entre opostos permite: trazer o conhecimento de bandas claramente dentro das vanguardas artísticas para as estruturas ancestrais da música cerimonial é brincar com poderes divinos. O resultado não pode ser senão único. Não repele, bem pelo contrário, mas não deixa de jogar com a mais íntima certeza que temos sobre os nossos gostos.
E se, para ajudar à festa que é todo o conceito da banda, Totem One goza de uma bipolaridade assustadora, entre o contemplativo e o electrizante, que destabiliza os chakras do maior santo que se possa escolher de entre a malta zen, Totem Two traz uma terceira vertente, a do ilustrativo, digamos.
Joga-se, neste terceiro álbum, com a possibilidade de construir algo dentro dos ouvintes que não leve à loucura e ao deboche. É com uma calma mais alegre, ou super-solene, que as músicas de Totem Two se desenvolvem, não causando as sensações mais agrestes do seu sucessor. As canções crescem sem grandes precipitações e sem grandes solavancos, mostrando-se constantes o suficiente para serem ambientais e ricas na quantia necessária para causar reacções e despertar atenções.
Isto nota-se principalmente na faixa de encerramento do álbum. De uma beleza mesmo oriental, Patmos demonstra uma orquestração entre o acústico e o eléctrico eficaz, que provoca uma alegria bem estranha.
Os Master Musicians of Bukkake já cá estão dentro, e eu continuo a estranhá-los. Definitivamente, não ia passear na rua a entoar os seus cânticos hipnóticos, mas também não deixo de ceder ao chamamento da sua música sempre que o sinto.