Mark Kozelek impressiona. Os anos passam, mas o universo abrangido pelo mentor de Sun Kil Moon e Red House Painters não parece ver como minguar. Não será magia cósmica, mas apenas a ordem natural de uma galáxia, movimentar-se e expandir-se. Para este novo disco, o norte-americano não olhou em diante, mas percorreu as suas influências de guitarra ao colo para nos mostrar que o seu cancioneiro, a sua voz e o seu dedilhado são únicos, mesmo fora da zona de conforto das composições próprias.

É assim Like Rats, um registo desconcertante por soar tão de Kozelek, mas com o jogo de cintura suficiente para manter cada canção fiel às suas raízes, sejam elas metal, um clássico da pop, uma música country ou até Bruno Mars (nesse capítulo, os mais prejudicados talvez tenham sido os Godflesh do companheiro de editora de Mark, Justin Broadrick, que viram a sua original e uber-clássica Like Rats ser cortada a um dedilhado sufocante), nem que seja na interpretação da lírica. No caso da faixa título, a fidelidade encontra lugar na frieza com que se ouve e sente um quase surdo “You breed / Like rats”.

Contudo, é em Carpet Crawlers que este novo título em nome próprio de Kozelek encontra o seu ponto alto, num fingerpick tão fiel aos teclados quanto elástico o suficiente para se estender às guitarras. A voz, essencial na canção original do disco clássico de Genesis, The Lamb Lies Down On Broadway (de resto, o último editado pela banda britânica a merecer a nossa atenção), faz jus à interpretação de Peter Gabriel, mais dramática que tecnicamente elaborada.

Mais impressionante ainda é o trabalho de pesquisa e transformação do norte-americano, algo que não me deixa de recordar o que Richard Cheese dizia sobre a nova geração de compositores: eles compõem os novos standards. Kozelek foi ainda mais longes e fez de standards músicas que a cultura pop podia votar ao esquecimento geral. Que tal não aconteça, pelo menos não sei este tento de lhes ressalvar a beleza.

No fundo, isto é um disco que firma o senhor Sun Kil Moon como um nome incontornável da folk americana actual. Aliás, se não era algo certo até aqui, Like Rats, ao apelar aos nossos gostos mais profundamente íntimos, ou até aos prazeres de que nos sentimos mais envergonhados (aproveito para ressalvar que só ouvi Bruno Mars pela voz de Kozelek. Quem é o gajo, já agora?), com o toque sempre especial da Cher nos seus tempos com Sonny, através da música I Got You Babe, dissipam-se as dúvidas.