Um homem e a sua guitarra numa noite seca e quente. Não estivéssemos nós numa cave de tecto alto e paredes rugosas, com a zona ribeirinha a escassos metros de distância, até poderíamos tentar sentir-nos reconfortados em termos uma ideia do que é o Ohio. Provavelmente lá haverão bastantes caves onde muito se passará, e que por certo não terão ar condicionado, o que pareceu também suceder no aniversário do Musicbox – uma tortura cada pedaço de massa corporal que encheu a sala. Mas nada será mais ilustrativo do que um próprio exemplar do sul estadunidense – o ambiente abafado era facilmente dispensável como adereço -, indivíduo de estatura média, cabelo à escovinha, pescoço colado aos ombros, testa e queixo salientes, bem como a barriga quarentona, semblante gingão despreocupado mas rijo, um provinciano de camisa aos quadrados, ganga e botas. Mark Kolezek, um bonacheirão imprevisível e porventura inconveniente que a nós, portugas, cai no goto instantaneamente.
Promete covers de Radiohead à plateia, perante a quase evidência de muitos daqueles que a compõem ainda naquela tarde se terem desdobrado na tentativa de arranjar um bilhete abaixo dos 100€ para Algés. “Fuck those guys”, repetiu antes de começar a cantar, enfatizando também a teoria de que o olho esquisito de Tom Yorke não passará de uma operação de marketing pessoal, macaqueado um começo de “Creep”. Mas quando os primeiros timbres soam… É palpável que todos sabem porque marcaram presença, mesmo após alguns sorrisos condescendentes. Aquela voz ao vivo. Intocável, imaculada, que quando desafina nas notas altas lhe fica bem. Como um instrumento, é através dela que a intensidade das músicas se orquestra. Com o habitual Steve Shelly na bateria e com um teclista sobre o qual o vocalista admitiu que, estando no seu primeiro concerto a acompanhá-lo, terá acertado mais que ele próprio, que logo à primeira se esqueceu de um verso. Instrumentais soturnos, com as teclas em destaque, preenchendo o espaço dos batimentos da bateria límpida, mas na guitarra pouco pegou Mark Kolezek, aproveitando as mãos livres para gesticular e fazer uso das médias Sagres com que entrou em palco, ou para marcar o compasso do seu novo teclista com um entusiasmo infantil de maestro.
Mark Kolezek responde a toda a gente – mal ouve uma voz que se lhe dirige – as antenas arrebitam-se logo. O Musicbox talvez se assemelhe com os sítios onde costumava tocar no Ohio. Ele responde a quem manda bocas pedindo músicas; pede silêncio para que se concentre a tocar guitarra; troça ainda mais dos Radiohead; diz que quer falar com uma rapariga depois do concerto porque respondeu “I trust you”, relativamente a um arrufo sobre a escolha e duração do setlist, entre o vocalista e outro membro do público, na parte de trás, e ela própria, mais à frente. Mark Kolezek não gosta que lhe digam o que fazer – tinha dito isso mesmo a outro elemento do público no início do concerto – mas ainda nos fez um encore. Depois… «Hey, guys, we’re doing one more song. And it will be the one on the set».