Diz-se que há muitos anos-luz a separar-nos de grande parte das estrelas, tanto que por vezes só as vemos brilhar depois de cessarem. Mas há casos distintos, como Mallu Magalhães que, nascida nos anos 1990, tem já vindo a fazer reflexo noutros cantos para lá do Brasil, terra que a viu brotar e encontrar notoriedade, logo aos 15 anos. Prova de que a jovem tem gozado de um tal estatuto de revelação é que, ontem à noite, chegou a parecer que as cadeiras não davam para todos aqueles que aguardavam pela sua vez de entrar no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Aos 21 anos, Mallu fez a proeza de esgotar o concerto na sala de Lisboa (cidade que é sua casa há mais de um ano) e fez o mesmo com a Casa da Música, que a recebe hoje, dia 28 de Janeiro. Tudo para ver a menina brilhar, meio escondida atrás da guitarra que empunha enquanto gravita em torno dos temas do tão entre nós adorado “Pitanga”.

Generosa nos sorrisos mas contida nos movimentos, Mallu lá foi revisitando o seu repertório de toada sensível ao ponto do frágil, amparada pelos ritmos suaves que a banda com ela enforma, lembrando que (palavras roubadas do tema com que fechou o concerto) “sambinha bom é esse que tem pouca nota”, e algumas delas são inspiradas naquele indie que tantas vezes nos ocupa por aqui. Só a sala impôs ao público uma distância agridoce: terá, certamente, sabido bem melhor ouví-la num dos lugares sentados da plateia do que à beira de uma qualquer das janelas que abrem para os balcões superiores por onde espreitámos, mas, ainda assim, foi pena que ninguém a tenha conseguido ouvir mais de perto, ao ponto de poder ver com quantos tons se fazem as suas canções, com a subtileza que só a intimidade deixa ver.