Há noites liminarmente físicas. Aquele Sabotage, de nariz arranhado, vai-se mexendo pela macrobiota dos Twin Transistors num lambe-lambe semifuso entre o ácido e Marte. Giram-se cervejas, aquecem-se os ossos ao lume histriónico, gastam-se os pulmões numa nicotina que se amarra à ganga; sexta-feira: a solidão é clandestina e a pista quer companhia porque Le Butcherettes vêm aí.

A dança estala de passo trocado pelo baixo caprichoso. Fica ali, de braços cruzados, à espera que lhe mudem a companhia e Teri Gender Bender, evitando o embaraço que o silêncio sempre carrega, grita como uma Mama Quilla envenenada pelo vermelho que traja. Tudo gravita no seu redor, um LÉtat c’est moi de lábios encarnados que pela anca puxa Lisboa até ao baile. Não se chora prata, mas transpira-se. Repetindo: há noites liminarmente físicas, onde vale mais um encontrão bem mandado do que um riff. Não que Le Butcherettes sejam fraquinhos, mas lembramo-nos de Monotonix porquê? Pela sua música? A analogia cai bem numa Teri que esbraceja, provoca e faz do garage quase acessório, entre beijos na boca às grrrl de primeira fila. Alguém ao fundo grita “chupa!”, mas a noite é dela e ela faz o que quer.

Há bolhas de suor que se encavalitam no tecto, vai que não vai para cima de nós. A plateia, num crochê de corpos, empurra-se como assalariada no ministério da desordem e Teri não lhe resiste. Atira-se. Rebola pelo chão, enxuga o Sabotage no vestido, enquanto Chris Common lhe marca o allegretto da despedida até final.