Com lançamentos datados do virar do século e com uma discografia em aparente constante crescimento, Lawrence English tem mantido ao longo destes quinze anos um registo de actividade absolutamente notável, tornando-o capaz de se impor como um dos mais interessantes artistas sonoros da nossa geração. English, o senhor Room40, editora que em 2003 apresentou ao mundo “Steel Wound” de Ben Frost e desde então tantos outros que poderíamos aqui enumerar, passou esta quinta-feira pelo palco do Passos Manuel, no Porto.

Desde Brisbane trouxe-nos “Wilderness Of Mirrors”, álbum lançado ainda em Julho do corrente ano e que veio marcar a discografia do australiano como a peça mais abrasiva e ruidosa na listagem. Se em álbum, e pensando particularmente no sublime “A Colour For Autumn”, há toda uma delicadeza geométrica inerente à música deLawrence English, esta ganha ao vivo uma fisicalidade capaz de encher espaços, camada atrás de camada, como se derramasse de forma palpável do PA da sala. Desconstrui-la em tempo real parece uma opção tão válida como deixar-se envolver pelo seu sentido estrutural e arquitectura , numa qualquer forma de obelisco que se ia moldando na ausência de luz, um monumento à memória e à suspensão do tempo.

Queiramos pensar na hora tardia ou na pouca antecedência com que o concerto foi anunciado como justificações mais óbvias para a quantidade de cadeiras vazias no auditório do Passos Manuel. Infelizmente, este deverá ser dos tais que acaba perdido para além do Horizonte de Eventos.