Novembro de 2012. Os Kylesa editam From The Vaults, Vol. 1 – disco de raridades. Encontramos nele uma cover bem “doce” dos Buzzov*en, banda que qualquer fã de sludge deverá reverenciar, por mero reflexo de Pavlov. Antes, em 2010, Laura Pleasants sobe ao palco com os Eyehategod e berra a malhona Left To Starve, hino obrigatório na cartilha de quem mastiga riffs podres, sem olhar às consequências. Juntemos a estes dois factos álbuns como Time Will Fuse Its Worth ou To Walk A Middle Course e facilmente chegamos à conclusão de que os norte-americanos nasceram no solo apátrida onde o hardcore se funde no doom.

O cenário alterou-se. Desde Static Tensions, convictamente subjugado à epítome de magnum opus, os Kylesa descarrilaram do core e afundaram em definitivo o sangue no THC: Spiral Shadow foi o primeiro travo mais experimental, mas Ultraviolet é de um nível descaradamente superior no que ao “tripanço” diz respeito. Exhale, malha de abertura, dá-nos a dica – o sexto capítulo dos sulistas é um pitoresco bafejo de psicotrópicos – eGrounded prova-nos que os Graveyard não têm exclusividade no ressurgimento dos 70s: riff ácido, engravatado por um solo de nos fazer deitar na relva de sorriso posto.

Estamos apresentados. Steady Breakdown é tão catchy que nos arranca do sério – guitarra jocosa, baixo carnudo e um devagar, um devagarinho, sugerindo Sky Valley como roteiro, de tejadilho aberto e garrafa na mão. Long Gone repete a graça, trazendo na cesta todas as viagens do mundo: há peso, sim senhor, mas a jornada mental só acontece por culpa de mais uma mid-section patrocinada pelas poções mágicas dos apache. Brindemos, tchim-tchim.

Todo esse apelo “orelhudo” não se confina aos instrumentos, somente: nunca Laura soou tão bem num disco. A abordagem vocal escolhida em Vulture’s Landing é tão inesperada que se torna trunfo e We’re Taking This (a faixa mais “tipicamente” Kylesa de todo o registo) mostra-nos a ferocidade de Miss Pleasants quando cospe bem alto «What goes around, comes back around».Ultraviolet também escolheu eficazmente a roupa para sair. De produção a cargo do próprio Phillip Cope, guitarrista e vocalista, o permanente reverb divulga-se certeiro e enche o disco de um feeling etéreo – Low Tide toca ao de leve no ombro shoegaze e apenas What Does It Take parece cair no exagero.

As despedidas fazem-se com Drifting, de chapéu tirado em reverência ao stoner desértico construído pelos Yawning Man e eternizado pelo divagar melódico de Josh Homme. Sim, é nesta latitude que se encontram os Kylesa em 2013 e estão impecavelmente bem: se Unspoken não é uma das malhas do ano, andamos a brincar com coisas sérias.