Com a sua leveza proverbial, Kurt Vile dá-se a um novo registo este ano, depois de editado o belo Smoke Ring For My Halo, um bom exemplo de um rock que não tem o peso das pedras e que se mexe nas nossas mãos como cotão, suave e impossível de não querer tocar.

O espírito que leva ao ritual de limpar o novo EP do norte-americano e de colocar a respectiva rodela a girar deve ser exactamente o mesmo. Sem tirar nem pôr, devemos estar contextualizados de que a vida é uma bodega, que passa o tempo a prostituir-se aos outros. É isso que o vil Kurt Vile nos canta, de forma descontraída, em Life’s a Beach, apontando a sua óbvia solução: ouvir a sua guitarra despreocupada numa merecida road trip, em direcção ao pôr do sol, de forma a que ele mais dure.

Em So Outta Reach, o guitarrista prova que o sol que nasceu para os rockeiros dos anos 70, a que Hendrix tanto se referia, ainda pode estar merecidamente vivo entre os que, de nós, sabem estar na música com a despreocupação profetizada em It’s Alright e The Creature. É um EP irónico, facilmente conduzido pela guitarra cheia de praia e verão de Kurt Vile, que deixa o inverno que me calça estas pantufas bem para trás.

Pelo ambiente, (so outta reach), a música, não está assim tão fora do nosso alcance, e o EP segue pela auto-estrada que se vê mesmo ali ao lado, como acontece na A1. É música para todos nós, esquisitos ou não. Não há espaço para manias na humildade musical do Kurt Vile e não há como não o apreciar, nem que seja por isso mesmo.