Quando uma banda inspira o nome no mítico King Kong do filme com o mesmo nome de 1933, imagina-se um som lento, bruto e visceral. Quando a mesma banda resolve por um símio gigante na capa de um álbum, é bom que este realmente nos esmague com uma força impiedosa para corresponder às espectativas. A banda em questão é o trio sueco Kongh e o álbum, terceiro da carreira, éSole Creation. Não sendo uma rotura enorme no género que praticam, a verdade é que cumpre de sobremaneira os predicados sónicos que o nome e a imagem sugerem.
O grupo composto por David Johansson e Thomas Salonen já vinha apresentando propostas interessantes de sludge mas a verdade é que nunca tinha soado tão monumental como aqui, cortesia de uma mistura muito boa de Magnus Lindberg, dos compatriotas Cult of Luna. A parede de som que daí resulta adequa-se melhor à mudança de registo efectuada, muito mais próxima mais de um doom à Yob do que no passado. Um sinal de bom gosto, diga-se. A verdade é que há muito do majestoso universo de Mike Scheidt em Sole Creation, sendo que há paralelismos claros entre a épica Skymning com que os suecos terminam este e The Great Cessation do álbum com o mesmo nome dos norte americanos – felizmente que a sensação que fica com o tempo é mais de inspiração e função semelhante no álbum do que propriamente tentativa de cópia.
Diga-se que a dinâmica que caracterizava os trabalhos anteriores não foi minimamente prejudicada com a evolução sofrida pela banda, algo que fica evidente em Tamed Brute, que soa basicamente ao seu título, consistindo num riff, que só pode ser descrito como literalmente bruto, a ser controlado sucessivamente e trazido para toadas mais lentas, amiúde curtos vislumbres de uma força que parece piscar os olhos a estilos mais tendencialmente rápidos (leia-se death ou black metal). Piscadelas que se tornam descargas violentas em The Portals, o destaque maior do álbum no que a riffs demolidores diz respeito.
Há uma ideia muitas vezes enunciada de que o terceiro álbum marca um ponto crucial na história de uma banda. Nesse sentido, o que se pedia ao duo sueco era essencialmente aquilo que eles apresentaram – evitar a possibilidade de estagnação continuando a evoluir a sua música e uma dose tão massiva quanto possível de peso bem escrito. Essa última, influências mais ou menos claras à parte, é inegável e já revela personalidade suficiente para fazer dosKongh um dos bons nomes actuais do género.