Não inventamos: “Doubt” é a tímida glorificação da expurga enquanto caminho artístico. E Kristina Esfandiari reconheceu-o em discurso directo ao PA’. Foi ela, a norte-americana de ascendência persa, quem esculpiu nas suas entranhas King Woman. E foi ela, também, quem escolheu arrastar este organismo solitário para um quincôncio alinhado em quatro pontos.
Outrora sob restrita protecção de Kristina, em “Doubt” a entidade King Woman oxigena a quatro almas. E se os estigmas, se as chagas lancetadas, provêm em exclusivo de quem sempre sangrou em primeira instância, as fibras sonoras são hoje construções plurais. As guitarras perdidas de amores nas palpitações shoegaze, o vernáculo que fica por dizer em tímidos acordes esfumados de melancolia e uma atmosfera que se debruça em nós à espera que lhe demos as mãos – são idílios escritos por quatro eus. Cantados só numa voz? Sim, mas de depuração plena.
Que mais haverá a dizer? “Doubt” é bonito. De ecos profundos selados a memórias irreconhecíveis e pulmões ébrios do nevoeiro que a noite nos dá por cada sonho interrompido. Houvesse além de quatro faixas – é um EP – e estava descoberto um grande disco.