Chovia a cântaros no Cais do Sodré, enquanto as cerca de três dezenas de pessoas entravam para o MusicBox: uma boa casa, tendo em conta a pluviosidade e o facto de Khuda ainda não ter um nome amplamente reconhecido.
Com o ponteiro a bater na meia-noite e a fazer cócegas ao dia 9 de Outubro, entraram os Katabatic, lisboetas calejados em primeiras partes: Orthodox, Caspian, A Storm of Light e Russian Circles, a banda que tantas vezes é comparada a Khuda. No seu post-rock atmosférico, o quarteto entreteu durante 45 minutos os presentes, acompanhados por projecções artísticas no background; variando entre a vertente espacial e as descargas de sludge, Katabatic cumpriu a sua missão, sem, no entanto, ter tido uma actuação marcante.
Mas foi o suficiente para agradar bastante a Tom Brooke, o guitarrista dos Khuda, que admitiu, porém, não conseguir pronunciar o nome do grupo da capital. Foi nesta toada bem-disposta que o duo de Leeds entrou em palco, pronto a apresentar o seu primeiro disco de longa duração Palingenesia – com lançamento previsto para este mês. Faixas como Black Waters e Tallinn desde logo distribuíram a resposta cabal a quem (como eu) indagava sobre a possibilidade de a ausência de um baixo poder penalizar o live act dos britânicos. Nada disso!, a habilidade de Brooke em lidar com os riffs em constante loop permite à banda criar uma textura mais do que suficiente para arrancar aplausos sinceros aos presentes. A juntar a isso, o polirrítmico bateristaSteve Myles funciona como alavanca perfeita para o caótico post-metal do grupo (como prova Ezra, do EP Stratospherics), mostrando estar definitivamente conectado com Tom Brooke – eles que tocam juntos apenas há um ano, depois da saída de Robin Timmis.
Sem qualquer slideshow, e apenas com luzes mínimas, Khuda presenteou a plateia lisboeta com uma actuação violentamente melódica. Entre baquetas e cordas partidas, o par de músicos mostrou coesão e um ar de satisfação natural por poder tocar ao vivo as suas composições, que atiram a nossa memória para uns Omega Massif e, lá está, para Russian Circles. Pelo meio, Brooke ainda admitiu a sua surpresa pelo facto de o clima em Portugal estar “à inglesa” e pediu aos presentes para darem uma olhadela no merchandise, pois o dinheiro escasseia e eles ainda queriam chegar a Braga e Bragança. Humildes e com visível agrado pela sua primeira extensa tour europeia (que já passou pela Macedónia, por exemplo, e irá apenas terminar perto do final de 2010), os dois ingleses despediram-se de Lisboa com promessas de regresso para breve.
O incenso de Tom Brooke apagou-se, os amplificadores desligaram-se e o aplauso efervesceu, saudando uma hora de poder instrumental, que abanou o betão da Rua do Alecrim.