O “conforto asséptico do isolamento”, como escreveu Adolfo Luxúria Canibal, é o espaço imediato por onde se move Keaton Henson. Uma muralha de solidão traduzida num quarto, onde os cigarros se vão apagando no parapeito da janela. Por ela, o britânico fita e convive com fantasmas de relacionamentos falhados, que nada mais lhe deixaram a não ser a vontade de pegar na guitarra acústica e convidá-los a entrar. Henson mostra-lhes canções simples, emocionalmente carregadas, num momento cénico que poderia tão bem ser apadrinhado por Nick Drake. Foi assim até Birthdays.
Enquanto o seu primeiro, Dear, se traduz num folk despretensioso, somente assente numa espontânea guitarra e no timbre agude deKeaton, o segundo disco traz-nos o clamor de um homem que ainda não concedeu a derrota perante si mesmo. E se a primeira parte do álbum nos leva a crer que Birthdays nada mais é do que a prorrogação de uma depressiva e beatífica ansiedade, a segunda traz-nos o engenho e a sua deflagração. Um engenho a que poderíamos chamar raiva ou fúria, proveniente de um homem farto de se sentir com “oitenta anos”, apesar de somente ter vinte e quatro, como afirma em Lying To You; uma deflagração que ocorre no intermédio de Don’t Swim e se vê transcrita num arrebatamento contundente, feito a bateria e cordas. Um claro despertar, um murro na mesa de um Keaton Henson que não apagou as suas vísceras e fá-las gritar num pesado riff em Kronos.
Birthdays talvez seja mesmo isso, então – um álbum que marcará o íntimo renascimento do londrino. É por isso um manifesto de alma e inquietude, que reverbera no sublime final de Sweetheart, What Have You Done To Us e desagua no enternecedor piano de In The Morning, a derradeira. Que lhe dê coragem para enfrentar o palco.