O ano é 2014, os Kampfar fazem vinte anos e lançam o seu sexto álbum, “Djevelmakt”, que traduzido do norueguês significa qualquer coisa como o “poder do diabo”. Apesar de ser o segundo trabalho da banda após a saída de Thomas Andreassen, o seu guitarrista de sempre, mostra que esta se reencontrou após o meramente razoável “Mare”.

Certamente não alheia à melhoria será a inclusão de um novo guitarrista, Ole Hartvigsen, que já se juntara a Dolk, Ask e Jon Bakker após o último lançamento. Nem é que a guitarra assuma um protagonismo diferente ou se eleve a níveis inéditos (bem vistas as coisas, não há aqui nenhum riff capaz de rivalizar com uma “Ravenheart”), mas nota-se uma coesão que parecia algo perdida e isso dá o espaço necessário para que Dolk muito simplesmente assine a melhor prestação vocal da carreira.

Como os Kampfar sempre foram a imagem musical do que vai pela cabeça do Dolk, as principais características do seu som mantém-se inalteradas à parte da roupagem, aqui muito mais moderna, fruto da sonoridade cristalina com que o álbum saiu do estúdio de Peter Tägtgren (com o sueco a assinar a mistura do mesmo). Por outras palavras, continuamos a ter riffs simples mas pujantes o suficiente para forçar pescoços a síncronos oscilares, melodias e samples com um forte travo folk, seja com o toque mais orquestral da abertura de “Blod, Eder Og Galle” ou com apenas um instrumento, como na flauta do meio de “Mylder”. Tudo isto suportado por uma secção rítmica capaz de perceber quando é altura de distribuir tareia e quando se pede mais um andamento intermédio.

Apesar destas características, nem tudo é perfeito e alguns dos temas duram demasiado para o conteúdo algo desinspirado que têm. No fundo, o álbum não valeria mais do que um par de audições curiosas, não fosse o acima mencionada trabalho vocal de Dolk. Já se sabia que o homem tinha jeito para alternar aquele tom mais épico característico do folk com um berreiro rasgado do mais fino recorte e em “Mylder” nota-se logo que está numa forma assinalável, mas é em “Swarm Norvegicus” e “Our Hounds, Our Legion” que se excede em termos de qualidade. É capaz de ajudar que sejam de longe as melhores malhas do álbum, mas impressiona a variedade de tom e a mistura entre confiança e sentimento –  aqueles urros desconcertantes ali no terceiro minuto de “Swarm Norvegicus” ou a abordagem à Primordial (onde convenhamos que mora o melhor vocalista do género) do final de “Our Houds (…)” são particularmente notáveis.