E porque carga de água tudo tem de ter um contexto exacto? Aos Dog Eat Dog não lhes apetece arrumar as botas e, atendendo à felicidade que emana de cada um dos integrantes da banda, quem somos nós para os contrariar? Licenciados no groove e mestres da boa disposição, os norte-americanos continuam a usar estas valências como factores-chave nas suas actuações e, no Santiago Alquimista, elas foram suficientes para satisfazer a centena de pessoas que se (re)sintonizou no final do milénio passado.

Até porque é para lá que malhas como Who’s The King e Think nos remetem, envoltas em longas jams adornadas pelo apreço que a banda tem pela marijuana – John Connor, o vocalista, não se coibiu em pedir erva à plateia, ele que sempre faz questão de ter o público no mesmo comprimento de onda. Foi também Connor que fez questão de recordar o recém-falecido Adam Yauch, lendário membro dos Beastie Boys, e Ronnie James Dio, ícone que emprestou em 1996 a sua voz a Games, faixa do segundo álbum dos Dog Eat Dog. Longe de parecerem interessados em adaptar o seu estilo ao que por aí é hoje visual e musicalmente aceite, a banda de New Jersey ofereceu, em suma, um agradável resumo de uma carreira feita de roupas largas e de um saxofone inevitavelmente nostálgico.

A última vez que os Reality Slap estiveram pelo Santiago Alquimista, houve até quem se atirasse do balcão. Nesse mês de Novembro de 2010, os lisboetas tiveram oportunidade de abrir para os Parkway Drive e não a desperdiçaram: num concerto amplamente elogiado, o grupo cimentou-se em definitivo como um dos nomes grandes da nova vaga de hardcore nacional e terá feito amizade com o Winston McCall, vocalista dos australianos – ou não participasse ele numa das malhas do novo disco dos Reality Slap. É exactamente Necks & Ropes que anda a ganhar cada vez mais rodagem ao vivo e, desta vez num Alquimista bem mais despido, a banda aproveitou a oportunidade para continuar a calibrar o que têm de mais recente. Mesmo num ambiente fleumático, os Reality Slap despertaram algum two step e sing-along, provocado não só pelas novas Re-Animator e All The Animals Come Out At Night, como pelas já clássicas The End eBrainfreeze. Para o fim, uma Enter The Devil sem direito a breakdown, o que deixou a plateia num curioso contrapé.

Também os franceses Vera Cruz conhecem bem os cantos à casa. Depois de em Dezembro passado terem feito a primeira parte dos Every Time I Die, os quatro músicos voltaram a Lisboa para mais uma vez comprovarem que são uma excelente versão europeia desse caótico hardcore que tem nos ETID e nos Cancer Batsexemplos clássicos. Bons músicos, boas faixas, boa agressividade – faltou somente resposta do contemplativo público. Da mesma falta de energia sofreu o concerto dos Backflip. O hardcore do grupo liderado pela voz de Inês Oliveira mune-se das clássicas raízes da velha guarda, mas nem isso foi suficiente para despertar as dispersas almas presentes no Alquimista.