No mundo encantado, existem reis, princesas, dragões, corpos brilhantes e celestiais, duendes, cogumelos faladores e uma magia intrínseca. No segundo longa-duração de Julianna Barwick, todos estes elementos são, também, convidados.
É que The Magic Place carrega tanto de fantástico, quanto de perturbador. Um álbum que arranca com quase seis minutos de experimentação drone, entre sintetizadores e exploração ambiental, tem muito que se lhe diga – em especial, quando gosta de abusar nos teclados arrepiantes (Bob In Your Gait) e nas vozes cristalinas, em loop permanente.
Criando atmosferas delicadas, The Magic Place é um murro em estômago vazio, para quem o aprecia. Os arranjos abençoados, como se derivassem de uma igreja, desconectam-nos da realidade, enquanto ouvimos uma espécie de anjo minimal: a cândida voz de Julianna Barwick, agora adquirindo um papel mais secundário – e ainda assim, muito principal -, é uma sentida homenagem ao imaginário das paisagens new-wage que os Cocteau Twins criaram, outrora.
Numa celebração de camadas e na clivagem entre a tecnologia urbana moderna e bucolismo florestal, os hinos íntimos de Barwick apoiam-se no piano e nas finas linhas de baixo para trazerem um cristal com reverb, fracturado em nove temas de fé, destino e sonho.
Feito de raízes étereas e sonhadoras, The Magic Place é, em si, uma poesia pastoral, com a qual facilmente nos identificamos e que mexe com uma variedade absurda de sentimentos. Todos os chakras deveriam ser alinhados assim.