Poder planar apenas durante breves instante sem pensamentos é porventura dos desejos mais pedidos diariamente. Descansar. Limpar o crânio por dentro. Descalçar por uns tempos essa bota que nos separa dos primatas. Não agindo como um bonobo ou um gorila de dorso prateado, deixar de ser apenas. Sem fatalismo, isto é -, simplesmente deixar de pensar, como diz o outro. Poderemos fazê-lo com receitas de opiáceos, sinfonias de compositores eslavos, programação televisiva diurna, de qualquer maneira, na verdade – depende de quão particular um indivíduo poderá ser – e nós somo-lo de infinitos feitios.
Faz-se de tudo, e no fundo o que só queremos é continuidade, previsibilidade, controlo, mas não há. Nem em nós nem nos que denominados de “outros”, o que é consequência óbvia da primeira premissa, pois esses somos “nós” também. Abre-se então, aqui, a brecha para a repetição. Ela é verdadeira tentação, o capricho subconsciente, a tentativa da real experiênciação. Ela é permitida e legítima. Mata mas também dá vida.
A música de Julianna Barwick é uma repetição que se coloca na segunda categoria de repetições. Muito embora em concerto seja necessário pensarmos sobre se será mesmo isso: um palco, uma pessoa, peças poucas de maquinaria, uma tela, cores. Não é necessária nenhuma destas imagens, neste caso particular, para apreciar o momento, tingido individualmente pelo que quer que seja. A ausência de interpretação é a única forma de apreciar a beleza da repetição e dela desfrutar sem culpa e desprezo, e esse dom talvez seja o futuro de gabinetes psiquiátricos.