Foi numa sexta fria de Dezembro que fomos levados ao café-concerto do Centro Cultural Vila Flor, incentivados pelo recente burburinho em torno de Julianna Barwick. A magia e os largos elogios em torno de Nepenthe, último disco da artista, faziam por justificar o simpático preço do bilhete assim como o ambiente acolhedor que este pequeno espaço do centro cultural possuí.

Pouco passava da meia-noite quando as habituais conversas de café morriam para dar lugar ao silêncio e à expectativa  em torno da artista americana. Depois de aparecer, e por entre tímidos sorrisos, escondeu-se por detrás do seu teclado para dar inicio ao espetáculo. As suas canções obedecem a um esquema idêntico e entre sussurros, assobios e uivos etéreos sobrepostos em camadas onde o controlo do pitch e do reverb acabam por pintar o quadro de ambiências.  Essas variações  adensam um trilho e criam uma intensidade de convulsão celestial. As texturas cintilantes do seu teclado, inspiradas nas paisagens islandesas de Reykjavik, onde o disco foi produzido, marcam a tendência da noite com uma voz atrativa que se cruza na melodia bonita, e uma tranquilidade, propicia à meditação e reflexão bucólica, onde a emoção facilmente se transmite quase como se de um momento de oração se tratasse.

Ao vivo, a sua capacidade de harmonizar e de criar ambientes deNepenthe é incrível e o desconcerto criada pelos assobios e uivos que ecoam é um jogo de uma profundidade e emotividade nunca vista.  Mais tarde, também com a ajuda do guitarrista Scott Bell adensou ambiências através dos seus acordes, tornando-as ainda mais compactas. A sedução leva a momentos preciosos que enternecem e fazem viajar os mais cépticos, por entre imagens de gaivotas e ondas projetadas na tela, com eloquência e compaixão. Há imensas qualidades que fazem de Julianna uma artista especial, e a sua estética atraente, amável e sedutora, marcada por uma cativante acaba por premiar o seu concerto.

 Ainda assim, e apesar do seu enorme potencial, achamos que as sua o facto de se ter apresentado sozinha ou apenas na companhia de Scott limita um pouco o seu universo de criação e algumas das canções mostradas ficam pouco exploradas. Talvez por isso noutros momentos da sua tour tenha utilizado coros e chamado mais músicos para ajudar a orquestrar a sua música, que apesar de extraordinariamente bem construída, parece bastante presa quando apresentada nestas condições. Ainda assim, fascinante e profundamente enternecedora, é assim que o retrato que conseguimos traçar à prestação da artista.