Uma das manchetes para este concerto foi que Josephine Foster iria apresentar-se em palco com o seu companheiro de várias aventuras, o espanhol Victor Herrero, e que este iria fazer-se acompanhar de uma guitarra portuguesa – instrumento de alta estima para todos nós.

O dito aconteceu, mas já no decorrer do concerto foram entrando dois convidados que fizeram deste concerto um momento especial. Tivemos a presença de Shahzad Ismaily – que já acompanhou músicos como Marc Ribot, partilhando com este o projeto Ceramic Dog, colaborando ainda com nomes como Secret Chiefs 3, entre outros. A intervenção de Shahzad foi quase de suave adorno, tocando vários objetos de precursão e utilizando de forma breve o seu teclado Moog (deixou de lado o baixo que, apesar de ligado, não chegou a utilizar). A outra surpresa apanhada pelo caminho, e que entrou no palco de violoncelo nos braços a tocar como se de uma peça de teatro se tratasse, foi a multi-instrumentalista Gyða(ou Guida) Valtýsdóttir dos islandeses múm. Se as expetativas já eram grandes, composta a banda ainda se tornaram maiores e mais entusiasmantes.

Victor Herrero agarrou-se à guitarra portuguesa e fez muito mais do que dedilhar da forma dita “tradicional”. Fez dela slide-guitar, improvisou, fez tremer as cordas de forma harmoniosa e outras vezes mais tensa e rude, inclusive utilizou um ebow, emulando o som do arco clássico sobre as cordas. No final do concerto, Victorconfidenciou que nós por cá devíamos utilizar a guitarra portuguesa de formas ditas menos convencionais, já que considera ser um instrumental com enorme potencial para experimentar/criar. Gyða Valtýsdóttir, para além de ter usado o violoncelo e de ter dado ao concerto uma densidade emocional extra, juntou-se ainda a Josephine Foster em alguns temas como segunda voz.

Neste concerto, apesar de ser evidente algum cansaço (a banda chegou a Coimbra a poucas horas do início do espetáculo), não se limitaram a tocar o que já se conhece em disco. Todos os músicos são talentosos e foram mais além ao explorarem os seus instrumentos em construções/desconstruções folk – sempre com o olhar atento, quase maternal, de Josephine, que embalou tudo e todos com a sua voz, digna do nosso imaginário.

Notou-se a cumplicidade entre Josephine e Victor, que têm sido companheiros de muitas aventuras – aliás, já uniram os nomes nos discos “Anda Jaleo” e “Perlas”, como Josephine Foster & The Victor Herrero Band, mas nos últimos anos Victor tem sido presença relevante no processo criativo da artista, sobretudo quando ela decidiu trocar os Estados Unidos pela nossa vizinha Andaluzia.

Os músicos foram entrando e saindo, primeiro com Josephine mais Victor, de seguida a dupla mais Gyða, para depois os quatro músicos em palco voltarem a duo, deste vez feminino, e no final regressaram todos ao palco.

Foi ainda possível ouvir Josephine a tocar sozinha, quase segredando melodias, enquanto penteava as cordas da guitarra como fossem fios de cabelo. A sua forma de cantar/tocar é feita de fragilidade e de enorme sensibilidade – para isso contribui a voz em tom agudo, abrangendo melodias como se em um sopro folk se sentisse a fulgência de uma sopranista. O grupo tocou vários temas como “Sugarpie I’m Not The Same”, “I’m A Dreamer”, “Waterfall”, “Magenta”, “Sacred Is The Star” ou “Blood Rushing”.

Ter a oportunidade de assistir a um concerto destes tão perto, para além de nos deixar desarmados perante a beleza da música, faz-nos sentir um apego aos momentos e às pequenas coisas que estão muitas vezes perante os nossos olhos e que muitas vezes nos esquecemos da facilidade com que nos fazem sorrir.