Jim Jarmusch sabe o que quer. Jim Jarmusch sempre soube pôr o espectador no lugar de espectador, arrastando-o pela lama se tiver que ser, fazendo-o suar se tiver que ser, afligindo, se tiver que ser. Jarmusch também nos emociona e diverte, se tiver que ser.
Especulando, para ele, tudo isto será rotina e, por isso, se tenha sentido tentado a confortar-nos em disco, lado a lado com o bardo dos tempos modernos, Jozef van Wissem (metade dos Brethren of the Free Spirit, com James Blackshaw). Sem desviar as atenções daquilo que importa – a música –, Jarmusch afirma-se como pessoa de boas ideias.
Concerning the Entrance Into Eternity é, como não poderia deixar de ser, cinematográfico (em sentido contrário, os filmes d eJarmusch são extremamente musicais), mas, delicadamente, simples. A fórmula anda longe do arrasto dos Sleep ou dos Sunn O))) – embora o feedback seja uma camada sempre presente – e aproxima-se da alegria contida dos mestres etíopes, do espírito selvagem e aventureiro de Neil Young das texturas desérticas de Ry Cooder, ou da introspecção dos Barn Owl.
Por isso, Concerning the Entrance Into Eternity é uma quase homenagem, mas também pode ser em exercício evocativo. Ou, ainda melhor, um retrato narrativo e rugoso de um homem tripartido em melancolia, mistério e melodia. Numa pacífica e introspectiva viagem trilhada e tecida a lute, esta dupla improvável mostra que sabe tocar cá dentro sem haver câmaras. Mostra, acima de tudo, dois homens inegavelmente calmos, que sabem esperar debaixo do Sol duro pela certeza do próximo passo.
Sem deslumbrar ou reinventar a roda, asseguram-nos de que a música, como as imagens, estão lá quando são precisas. O resultado é um disco que vive do espírito, mas que está sempre lá para amaciar as mágoas e para nos ajudar a aguentar um dia de Abril: com chuva mansa e uma névoa no horizonte.