Dia 2 de Agosto marcou o início oficial do 30º Jazz em Agosto da Gulbenkian – o concerto dos Ogre de Maria João servia para assinalar o 30º aniversário do Centro de Arte Moderna – e também o regresso ao mesmo anfiteatro de John Zorn, 5 anos depois da sua presença com Fred Frith. Este regresso fez-se em moldes muito especiais, com a celebração do 60º aniversário do norte-americano, feita com a apresentação de 3 espetáculos diferentes:The Dreamers, Essential Cinema e Electric Masada.

The Dreamers, este tal de dia 2, foi a forma perfeita de iniciar mais uma edição do festival e maneira ideal de introduzir John Zorn a alguém que, eventualmente, não conhecesse o mestre norte-americano. Neste projecto, Zorn não chega sequer a tocar o seu saxofone – tendo premiado com o famoso pirete uma voz da plateia que o pediu – assumindo “apenas” a condução do concerto. The Dreamers é um dos projetos mais acessíveis do compositor, viajando entre o easy-listening e a música surf, passando claro por sonoridades que acompanharam a formação de Zorn, a música judaica e sonoridades mais extremas.

Mas a sensação que os músicos em palco transmitem é mais do que mestria técnica para navegar todos esses mares, mais do que reagir às indicações expressivas de John Zorn. A sensação que os artistas em palco transmitem é a de que a sua música é mais divertida do que erudita, mais descomplexada que rígida, mesmo quando as músicas replicam na perfeição as músicas que podemos encontrar nos álbuns The Gift e The Dreamers.

A liberdade que emana do palco contagia a audiência, e é apenas possível pelo conhecimento e técnica de cada um dos 6 músicos em palco. A expressividade da guitarra de Marc Ribot encontra poucos rivais no mundo da música, e viaja com a mesma eloquência em géneros e estilos diametralmente opostos. Joey Baron é explosivo e melódico, como conhecemos desde o seu trabalho com os Naked City. Cyro Baptista na percussão e Kenny Wollesen no vibrafone enchem os espaços como ninguém. Trevor Dunn, talvez o membro mais mediático pelo seu trabalho com os Faith No More e Mr. Bungle, cumpre na totalidade, quer no contrabaixo, quer no baixo elétrico, que não tem medo de mostrar as garras do peso que lhe conhecemos. Jamie Saft, o membro mais novo em palco, revela uma maturidade no seu som e na sua performance impressionantes, mais até que a sua figura imponente.

Não houve dúvidas acerca do sucesso deste regresso, como comprovou o aplauso de pé de todo o anfiteatro, completamente lotado. O encore foi sincero, o público ainda pediu mais um, mas Zorn e a sua equipa retiraram-se com grande satisfação. A evidencia do controlo de John Zorn de toda a sua música e de todos os interpretes em palco ganhou outra força neste encore, com o mestre norte-americano de pé a conduzir veemente o caos sonoro, e a terminá-lo com um gesto brusco que o sentou na cadeira e  fez explodir os aplausos na plateia. A primeira lição estava dada.