Orientando-nos pela carreira de Jarboe, somos capazes de lhe dirigir enormes virtudes. Contudo, duas se situam como preponderantes: a importância do incógnito e da liberdade criativa. De facto, ao longo destes anos já a vimos assumir tantas e variadas causas. Como tal, esperar algo de concretamente fixo daquilo que apresentou seria uma tarefa inimaginável, e foi neste contexto que residiu o maior proveito de estar perante a ex-Swans. Acompanhada por P. Emerson Williams na guitarra, a americana deu a conhecer mais uma das suas encarnações, demonstrando que a incerteza de rumo, a constância da procura da superação e a dissociação de qualquer espaço musical definido, são atributos que a moldam.

A novidade foi mesmo essa. Nunca antes a vimos tão “despida” em palco, com tão pouco incremento de sons, não deixando de causar uma benéfica surpresa vê-la num formato meramente acústico. Não será de estranhar que esta seja, neste momento, uma forma que preza. Assim, a encontrámos mais exposta, mais singular e apenas protegida pela sua voz. Sem excessivas movimentações musicais atribuídas pela guitarra, a vertente principal acabou por ser as mudanças vocais que lhe permitiram circular por variados tons, dando maior ou menor gravidade aos temas, transmitindo sempre o seu carisma.

Maioritariamente encarando a plateia de olhos fechados, mesmo quando assim não se sucedeu, o destino do seu olhar nunca foram as pessoas. Talvez embrenhada nas suas letras, sensações e opiniões, Jarboe parecia extremamente centrada em si e naquilo que atribuía de forma pessoal ao que ia cantando. Todavia, as expressões de algum sofrimento e angústia foram a sua principal saudação, surpreendendo que não se vislumbre qualquer pingo de fragilidade. Um cumprimento cru, mas também suave que mostrou que ali residia carácter, mas, acima de tudo, muita humanidade. Um dos formatos mais puros e personalizados que alguma vez lhe conhecemos, acabando por significar o esquecimento de que não estava sozinha.

Talvez por isso, quando se despede com as palavras “It´s Time To Go Now” e P. Emerson Williams fica solitário em palco com as suas doze cordas, nos lembremos que existiu mais alguém. A concentração foi total na sua voz, não deixando de se sentir o quão curta foi a sua presença. Aprovamos as suas palavras e saudamos as suas imperfeiçoes.