Presenciar um concerto dos Japanther é à partida uma prática com poucas ideias pré-concebidas. Nunca se pode ter a certeza qual a experiência que vai ser vivida e quais os planos do duo. Aquilo que se sabe de antemão é que vai ser sujo e quase visceral, muito mais que em disco. E assim foi. Como tal, cada evento pode demonstrar tendências e ocorrências diversificadas. À ZDB não levaram qualquer outra componente dos vários projectos de arte em que estão envolvidos. Trouxeram apenas a música, a sua arte maior.

Sem grande aviso prévio, Ian Vanek e Matt Reilly entraram em palco e o que se esperaria seria um pequeno sound-check. Mas não, os Japanther não necessitaram desse primor e acabou por se tornar difícil de entender se já tinha verdadeiramente começado. De facto, tinha, e a forma desenfreada como se iniciou, fez antever que iria ser, como eles gostam, uma actuação suada.

Associadas ao baixo e à bateria, as vozes eram aplicadas através da utilização de dois microfones de telefone, que ambos utilizavam para debitar de forma caótica e, porque não, cuspida, as suas vocalizações. O efeito criado dava uma sensação que se encontravam a declarar temas num local distante. No fundo, de forma ruidosa, abrasiva e furiosa, anunciavam uma espécie de telefonema que nenhum parente gostaria de receber.

Ao longo de cerca de uma hora, não existiram pausas, nem momentos ambientais ou contemplativos. A jarda foi constante, sem clemência, funcionando como um choque, que fez abanar e mexer toda a estrutura muscular e óssea. A avaliar pelo movimento na sala, o choque foi bem aplicado.

Percorrendo onze anos de história, os Japanther nunca primaram por actuações virtuosas com um constante acréscimo de acordes. Nada disso, a simplicidade musical está bem patente e eles não o renegam. Funcionou? Sem dúvida. Divertiram, entretiveram e, como tal, cumpriram com aquilo que lhes era pedido, mas também com algo que pretendiam. A utilização dos instrumentos foi incansável. Ian Vanek sempre a violentar todas as componentes da bateria e Matt Reilly com a utilização constante de distorção, suportavam uma guerrilha frequente.

No final, o pedal não conseguiu acompanhar o ritmo, nada que fosse razão para deixar de tocar e, Ian permaneceu em palco, criando uma forma de jam de bateria acompanhando os beats dosToo Short. Tudo nos Japanther pareceu funcionar com um enorme descomprometimento e diversão, não se esquecendo o grande propósito de criar música. Se solicitaram a energia do público, tiveram-na em boas doses e, desta forma, mostrou-se que, tal como Matt exclamou, “Rock ‘n’ Roll is alive here”.

Na primeira parte, os Kimo Ameba mostraram que instrumentalmente são bastante capazes. Infelizmente, as vozes acabaram por estragar aquilo que de bom conseguiram criar com as estruturas instrumentais. Sem grande nexo, despropositadas, tornaram sofridos alguns momentos que, quando estas não estavam presentes, se tornavam ruidosamente interessantes.