O Jameson Urban Routes voltou ao Cais do Sodré novamente com cardápio recheado de díspares temperos, como os Future Islands e Fujiya & Miyagi, Tim Hecker ou Lower, nomes que já subiram ao palco do Music Box no âmbito do festival, que decorreu desde o dia 22 de Outubro e encerrou ontem, dia 1 de Novembro, entregue aos Shabazz Palaces o encargo. Fundados, em 2009, por Ishmael Butler (este que, nos anos 90, integrou o colectivo de rap-jazz Digable Planets) e Tendai “Baba”, multi-instrumentalista filho do músico Dumisani Maraire, – um dos principais percussores na internacionalização da música tradicional zimbabuana – editaram em Junho o seu segundo álbum..
No Musicbox, ontem, a noite começou com estranha pontualidade (por certo apertada pelo staff do festival), apesar de não ter sido por completo – o que é razoável pois, não acontecendo assim, apanharia desprevenida a malta habituada aos costumes do local. Mas os convivas, como é seu hábito, acirradamente, chegam tarde – sendo que os Shabazz Palaces só tocam mais tarde (às 0H30) – o que deu ao músico guineense Mû (ou “cantautor”, como se define) uma actuação bastante ausente na plateia.
Perto da hora, nota-se no crescente volume pessoas que Portugal junta-se à fileira de países já rendidos ao som esquisito apresentado pela rapaziada de Seattle. Entre o rap, a electrónica e o psicadélico, sem ser nenhum mais que o outro. Ou, por outro lado, talvez seja mesmo redutor atribuir-lhes títulos específicos – rejeitemos essa abordagem: chamemos-lhes música experimental. Uma casa bem composta, portanto.
Os Shabazz Palaces são uma banda vocacionada para actuar ao vivo, e não foi preciso muito tempo em Lisboa para observar que a extensa digressão que percorre agora a Europa e terminará na House Of Blues (a lendária sala de concertos de Boston, nos EUA) tem toda a legitimidade, até porque é desejada há algum tempo. Foi em 2009 que estrearam a discografia oficial, depois de dois EPs lançados quase em anonimato, com “Black Up”.
Disco de faixas com títulos extensos, temas complexamente abordados em rimas que são lançadas em ambientes que alternam entre um crispado intimismo electrónico (ao vivo é exponencialmente mais elevado e devastador, tanto na intempérie sonora em “Youlogy”, por exemplo, como na vertente visual recheada de psicadelismo – impossível distingui-los em palco) e sons líquidos, esguios, em que encaixa groove reproduzido emsamples de vozes e baterias de soul e funk; patentes noutras faixas do seu primeiro registo como “Are You, Can You, Were You (Felt)” ou em “Recollections Of The Wrath”.
As músicas do álbum de estreia surgiram pelo meio de uma actuação que se iniciou e pautou, principalmente, em torno do último registo, “Lese Magesty”. Terminando com o single que o encabeça, numa notória realização de uma noite particular no Cais do Sodré, convidando a permanecer noite fora ao som de Nidia Minaj, Anthony Naples e Black.