Sem aperitivos, noite suave, mote inicial de uma noite singular. A singularidade decorre do desconhecido, ou do inesperado. Aquela quarta-feira na ZDB, trouxe-nos os dois: o Electric Cha3bi. Pelo que conseguimos perceber, ninguém detinha certezas absolutas sobre o que iria ver – o que fez alcançar dois resultados, lá iremos.

Este movimento remonta à sociedade egípcia em núpcias de mudança. Sabemos provavelmente, de fragmentos de notícias desfragmentadas, que o Egipto depôs um ditador em 2012, no seguimento de uma das revoluções compiladas no movimento libertário que varreu aquela zona do mundo, a que chamaram Primavera Árabe. O nepotismo e o elitismo da cultura egípcia são extremos, a segregação entre classes é natural como a falta de rumo, isso não mudou. O Electric Cha3by surge de uma nova forma, interclassista, de festejar pela madrugada fora, com iluminação de fogueiras, ao som de um subgénero incrível da música nacional Chaaby. Se a revolução egípcia teve uma banda-sonora, ela é parecida com o que ouvimos, meio aparvalhados, no Aquário.

Há rompimento punk, há alegria contagiante da electrónica e do hip-hop. Faz sentido. Mas tentem imaginar isto com duas baterias a tocar quase sempre ao mesmo tempo, ou com permutas de ritmos bizarros que nem conseguimos digerir a tempo. Aqueles dois, os Eek, são uns animais a tocar juntos, há que dizê-lo. E o que dizer de Islam Chipsy? Aquele maluco, no meio, atrás do teclado. Ditador do ritmo, basta um olhar ou gesto ténues para que os companheiros saibam o que fazer a seguir, no que pode ser apelidado de uma diabólica encruzilhada sonora, com três instrumentos. O som era ensurdecedor. Encantador do teclado Yamaha, cujo som serpenteia solto em movimentos circulares, estridente, louco, imprevisível, incessante. Paragens, só depois de uns bons dez minutos ou mais de transe.

Um raro olhar em redor constata uma maioria enérgica, dançante, admirada mas entusiasta; e uma minoria algo consternada, apática e de cara fechada, do género o que é isto, meu?. Na vidraça do Aquário, com ligação à Rua da Rosa, os narizes multiplicam-se esparramados, uns vão-se embora e voltam de seguida para ver mais um pouco, e houve mesmo quem desse a volta, após um gesto alusivo do baterista mais próximo. Três típicos vendedores de caldo knorr do bairro alto irrompem no aquário, furam até à frontline mas, passado pouco tempo, desaparecem – ossos do ofício, certamente.