Desde que Aaron Harris disse no seu Twitter que era desta que os Isis vinham a Portugal que muita expectativa foi criada em relação a uma, primeiro, suposta estreia que, felizmente, acabou por se confirmar – tal como as expectativas foram correspondidas. No último fim-de-semana de Novembro, os americanos vieram pela primeira vez a Portugal para marcar a memória de muita gente, e logo a dobrar.

Os americanos fizeram-se acompanhar pelos seus compatriotasKeelhaul e pelos finlandeses Circle, que se encarregaram de preparar o público para a banda mais esperada, ou melhor, de o distrair da expectativa crescente.

As duas salas tinham características diferentes: enquanto que a Incrível era mais ampla e tinha um aspecto mais negro e industrial, algo que ajudou muito ao ambiente, o Teatro Sá da Bandeira tinha uma clareza de som invejável, como eu já há muito que não ouvia. Por isso, se os Isis beneficiaram em Almada com o ambiente, apesar do bom som, as duas outras duas bandas ficaram a perder.

Uma perda que não foi demasiado dramática para os Keelhaul, que, apesar do som mais técnico e pesado, conseguiram mostrar atitude e captar a atenção do público de Almada. Claro que no Porto a sua música adquiriu muito melhor dimensão, devido à natureza do que tocavam: sendo composições muito guiadas por riffs e variações muito técnicas, o som do Teatro Sá da Bandeira acabou por lhes dar uma dimensão merecida, que possibilitou ao público que se saboreasse o melhor possível cada música. E no fim valeu a pena, mais na Invicta que em Almada, porque os Keelhaultinham presença e boa música, sem exageros e sem gorduras – mas também não demasiado simples. Tudo em quantidades suficientes para todos.

Já os Circle parece que caíram de pára-quedas nos recintos – e não me admira que os que chegaram atrasados durante o concerto deles tenham tido dúvidas se acertaram no sítio certo. Mas, numa outra análise, foram também a banda mais corajosa a pisar o palco: tocaram um género que em nada tinha a ver com os demais, sendo um Metal mais ligeiro e, também, mais desactualizado (às vezes muito próximo de uns Iron Maiden, principalmente na voz), adornado com uma teatralidade quase ridícula. Uma vez mais, o espaço ajudou muito, pois se em Almada a banda estava completamente fora, tanto devido ao aspecto como à sua sonoridade, o bom som do Teatro Sá da Bandeira tornou o concerto menos insuportável, mais apreciável, no fundo.

Claro que, em comparação a Isis, mesmo a memoria de uns Keelhaul se torna pouca clara. É impossível apontar uma falha ao concerto dos Isis, tamanha a intensidade da sua actuação. Não me perco em elogios – apesar de todos eles serem merecidos. Os americanos apresentaram dois alinhamentos diferentes, mantiveram apenas a música de abertura, Hall of Dead, e a música com que encerram o concerto, antes do encore, Threshold of Transformassion e a vontade de percorrer os quatro últimos álbuns, Oceanic, Panopticon, In The Absence of Truth e Wavering Radiant. E nós, claro, agradecemos o presente. Almada teve, definitivamente, o alinhamento certo, provavelmente o melhor, mais pesado, mais directo (com mais músicas do álbum Oceanic) e um final de dividir opiniões: delays sobre delays até cessar; há quem goste, há quem não goste. Mas se aqui não há consenso, já no que diz respeito ao resto do concerto não se pode dizer o mesmo, visto que foi, verdadeiramente, impossível ficar-se insatisfeito, principalmente na música que precedeu esse final quase polémico.

O Porto já recebeu dos Isis um alinhamento de músicas mais denso, mais centrado nas explorações da melodia que Aaron Turner e companhia tão bem fazem. Foi uma verdadeira lição de Post-Rock, com muito peso para os meninos. O final, com a música Altered Course, foi uma onda de intensidade no mínimo épica. Claro que o concerto beneficiou da clareza de som acima mencionada. Se em Almada, Isis estavam com um som perceptível, no Porto todos os instrumentos se ouviam sem dificuldades, quase como se soassem um de cada vez, o que beneficiou imenso.

Cada um destes concertos foi incrível e ninguém perdeu realmente nada em nenhum deles – até porque a temática de ambos era o álbum Wavering Radiant, tocado quase na íntegra. Há uns meses escrevi um Post sobre o concerto de Minsk em disse que tinha sido, provavelmente, o concerto do ano. Pois eu não altura não sabia que os Isis vinham a Portugal.