Tentar escrever algo sobre Inverno Eterno – e mais concretamente sobre este disco – é, para mim, um exercício de extrema dureza e repleto de imperfeição. Trata-se de percorrer o meu íntimo e todas as sensações que este álbum desperta. Algo tão profundo e pessoal não pode ser completamente descrito por palavras.

Depois de Póstumo, a gravação de um novo álbum traz consigo, novamente, as características depressivas e sentimentais que tinham encetado a gravação do primeiro disco. Desta feita, existe uma maior consonância sonora entre as partes instrumentais e a voz. Os riffs cortantes e a bateria a compasso estão ainda mais presentes e a voz poeticamente sussurrada potencia uma atmosfera de imensa emoção. As letras são autênticas partilhas pessoais, o que torna este disco, acima de tudo, uma experiência emocional, uma forma de contar as mais profundas sensações.

Poucos discos conseguem chegar a este ponto de proximidade, traduzindo-se numa total devoção e penetração na esfera dos sentimentos privados. Johann Wolfgang von Goethe escreveu acerca da 5ª Sinfonia de Beethoven que “se todos os músicos do mundo tocassem esta peça, simultaneamente o planeta sairia do seu eixo”. Ao ouvir Inverno Eterno e transformando um pouco a frase, poderia ser dito que qualquer audição de II potencia que cada indivíduo saia do seu próprio eixo e seja transportado para um mundo de profunda comoção. Existem discos para os quais as palavras são extremamente redutoras, este é um desses casos.