PA' logo

Intronaut – “Valley Of Smoke”

André Forte2010-12-20

Alguma coisa mudou de Prehistoricisms para este novo registo, e não foi só a eficácia das músicas de Sacha Dunable e companhia. Aliás, Valley of Smoke regista uma boa porção de pequenas diferenças que resultam, claro, na qualidade global do álbum – sem dúvida, o melhor da carreira dos Intronaut.

Os norte-americanos conseguiram arranjar o meio-termo ideal entre a crueza das suas influências mais pesadas, a sua veia melódica e os seus desvios estruturais ‘ajazzados’, sem destruir aquilo que faz deles o que são. Simplificando esta ideia, os Intronaut são uma daquelas poucas bandas que me dão a sensação de novidade sem fazerem nada de completamente inovador, e agora conseguiram a mistura perfeita para perpetuar essa ideia, pelo menos até a um próximo álbum.

Valley of Smoke acabaria por quase não parecer um álbum metal não fosse a bateria repleta de contratempos e de duplas pedaladas constantes e alguns riffs de guitarra aqui e acoli, visto que até as vozes gritadas caíram em flecha, mas que não haja dúvidas relativamente ao seu peso, nem que seja liricamente. Os momentos mais extremos estão equilibrados e os Intronaut fazem bem o jogo das distorções a fugirem do growl e vice-versa, utilizando um em detrimento do outro, mas subjacente a cada estrutura está um tema global ao álbum, que é sobre a região de Los Angeles, e que ajuda imenso a cada ambiente distinto.

Não se trata de um álbum conceptual, como explicaram em entrevista ao PA, mas o conceito único permite diferentes abordagens a cada tema que traduzem com alguma certeza aquilo a reportam. Desde a mais agressiva Elegy, baseada na descoberta de uma vala comum indígena onde se notavam sinais claros de violência nos corpos, a uma politicamente correcta e relativamente mais aborrecida e polida Sunderance, que fala sobre a diversidade cultural de LA, a uma mais fantasiosa Core Relations, que remete a uma cidade subterrânea construída por um povo estranho, e à homónima e instrumental Valley of Smoke, que sonoriza, com a ajuda de Justin Chancellor (Tool) e um set de percussão extra, mais tribal, a cidade de Los Angeles por aquilo que é conhecida desde os tempos dos índios norte-americanos, o seu fumo. Há mais pormenores sobre estas coisas todas AQUI.

Mesmo pela tal veia mais melódica, de resto sempre intensa e muito característica na composição do quarteto do vale do fumo, nota-se a diferença na forma como as suas guitarras, construídas em cadências complexas de delays, são inseridas na música e na forma como estas interagem com a bateria, apesar da sua relação com o baixo continuar no limiar da dissonância. A percussão em Valley of Smoke, ainda que repleta de contratempos, não transmite a mesma agressividade do seu antecessor e permite divagações melódicas.

Claro que, apesar de todos estes pormenores, o álbum não se desliga completamente daquilo que os Intronaut têm feito e transmite uma perspectiva de continuidade, principalmente na faixa de abertura Elegy e nas de fecho, Past Tense e Vernon (esta última é exclusiva da edição europeia – tomem lá, japoneses!), em que sublinham bem a natureza mais pesada da banda, mais óbvia no antecessor.

Nesse aspecto, a jogada foi bem inteligente: mesmo perante a (surpreendente) perspectiva de se adormecer durante a audição do álbum, caso não se aprecie baixos quase distorcidos e harpejados, melodias complexas e bem tecidas em camadas de delays e uma exploração metódica de possibilidades sem uma porrada de guitarra ‘ametalada’ nem um gutural grito (algo bem pecaminoso, quando relativo a este registo), trazemos na memória os rasgos de início e do fim de Valley of Smoke e podemos dizer “que metalada valente, apesar de não me lembrar do que se passou ali no meio.” Mas gostava de sublinhar que se isso acontecer mesmo, não devem ter ouvido o mesmo álbum que eu.

Ainda que não transmita o peso de Prehistoricisms, Valley of Smoke é um álbum de uma densidade sublime, que mal se faz notar e que permite uma apreciação bela dos cantos mais recônditos da música mais extrema que se pode fazer, no sentido em que não é de audição fácil. Sim, os Intronaut fizeram um álbum denso, progressivo e complexo que não oferece dificuldade de audição, os malditos e brilhantes facilitistas.

Share On
Tweet
Previous ArticleALTO! + Black Bombaim – Santiago Alquimista
Next ArticleLinda Martini – “Casa Ocupada”
André Forte
Hobbo Editor

Related Posts

  • article placeholder

    Zatokrev – “Silk Spiders Underwater…”

    Emanuel Pereira2015-05-05
  • article placeholder

    Death Engine – “Mud”

    Emanuel Pereira2015-03-06
  • article placeholder

    Graviton – “Massless”

    André Forte2011-07-05
  • article placeholder

    Rosetta – “A Determinism Of Morality”

    André Forte2010-06-02
  • article placeholder

    Lo! – “The Tongueless”

    André Alexandre Gomes2015-03-02
  • article placeholder

    Pelican – “The Cliff”

    André Alexandre Gomes2015-03-02