Os Integrity são a referência mais subvalorizada dentro do hardcore. Não importa o número de bandas que descubramos a reinterpretar malhas como Micha ou a roubar descaradamente a linha de baixo de Psychological Warfare; não faz diferença, sequer, a quantidade de gente que considera Those Who Fear Tomorrow um “gamechanger”. Serão sempre poucos e justiça nunca será feita ante a mente de um Dwid Hellion que provou o quão intricada, vasta e complexa a união entre o metal e o hardcore pode ser – o metalcore, portanto. Não apenas musicalmente: se escutarmos Integrity, ignorando toda a sua oculta e enegrecida iconografia, estamos só a sonegar o conceito Holy Terror, organismo fundamental nas concepções artísticas da banda nativa do Ohio, e que hoje influencia nomes como Amenra. Em 2013, mais de duas décadas após Hellion ter iniciado a expurgação dos seus esquizofrénicos demónios (literalmente), Suicide Black Snakeoferece-nos outra cabal lição de peso.
O décimo disco dos Integrity expande-se a partir de um terreno anteriormente empreendido: metade deste trabalho pode ser decifrado, em moldes rudimentares, não só no EP Detonate the VVorld’s Plague, mas também no split de 2012 com os Gehenna, onde está a faixa I Know VVhere Everyone Lives. Em parceria com o guitarrista Robert Orr, Dwid Hellion recupera esses anteriores registos e reforça-os com um latente feeling old school, translúcido particularmente na produção. Se equipararmos Suicide Black Snake ao seu antecessor, The Blackest Curse respira um genoma de quem já percorre o século XXI, enquanto o novo álbum salta do baú dos 90s, de roupas largas, e com a palavra “clássico” escrita em cada poro. Essencialmente, Suicide Black Snake é tradição: ritmo mid-tempo, onde o baixo nunca se mostra tímido, guitarra austeramente reverberante e um Dwid trespassado a fúria e alienação.
É, aliás, surpreendente o quão old-school Dwid ressoa. Voz impecável, sem denotar pitada de cansaço, provando que há ainda muito para convulsar. Animalescos, os berros de There Is A Sign…em nada embaraçam o homem que pisou o estúdio para expelirHumanity Is The Devil, confirmando-se o tema como um dos pontos de referência dos 27 minutos de Suicide Black Snake. Porém, There Ain’t No Living In Life é por demais a rainha do disco: uma composição serena, de blues ao leme, infestada com a típica abordagem niilista que, não borbulhando no caos, ferve na eclosão de um solo de harmónica.
Ainda assim, este capítulo dos Integrity, quiçá por recuperar temas anteriormente conhecidos, nunca se afirma como um longa-duração, na plenitude. A ideia de que é um conglomerado de esboços, unidos a concepções estabelecidas anos antes, retira-lhe veemência, e facto de não ultrapassar a meia-hora também não ajuda. Teria sido bastante interessante testemunhar o lado mais experimental, trazido por There Ain’t No Living In Life, numa maior extensão. Pse embora tudo isto, ainda ninguém quebra Hellion quando decide jogar nas linhas do seu delírio.