Mal soou a primeira parede de ruído dos Hype Williams, na ampla sala da Culturgest do Porto, uma coisa ficou assente: o novo One Nation não faz jus ao que os londrinos são capazes de fazer.

O mais recente álbum da banda carrega em si toda a estranheza das obscuras actuações deste duo dinâmico, mas não nos revela a bagagem toda da banda – o oposto do que acontece num concerto cheio de vulnerabilidades e franqueza, tanto que o único escudo dos seus dois membros foi visual. Se tivessem mostrado os olhos, saber-se-ia tudo o que vêm a recusar, educadamente, à imprensa nos últimos tempos.

É, talvez, nessa insegurança que a postura dos Hype Williams se reflecte, e é, também, a combatê-lo que melhor se apresentam em palco, entre uma escuridão imposta pela fraca luz azulada e pela nebulosa da máquina de fumo. E tanto foi assim que os Hype Williams já estavam a postos, de luzes apagadas e com a música no prelúdio, quando a audiência entrou na sala e abandonaram-na antes de a luz voltar a enchê-la. Isto permitiu a que Roy Blunt, por detrás de uma mesa cheia de samplers, se mantivesse irrequieto, a andar de um lado para o outro, a passar, mais do que uma vez, entre as cadeiras da plateia e até a encarnar uma personagem meio gangster dançante, enquanto Inga Copeland se mantinha, frágil atrás do micro e ao lado do seu sintetizador.

One Nation, repleto de estranhas melodias espaciais, quase pedradas, não se transcende na banda sonora pesada e pouco eficaz que é – e que, por si só, não faz mais do que arrastar o tempo quando nos prende a atenção. Mesmo que toda a mestria da banda esteja evidente, como acontece, aliás, em William, Shotgun Sprayer, esta surge-nos em retalhos que nos rodeiam de distracções.

Ao vivo, estes retalhos formam um manto objectivo e coerente que cobre o público. É nesta imersão que as batidas, complexas de kicks e trinta e um snares diferentes, marcam o rimo para a construção em camadas da música dos Hype Williams, repletas de samples e sintetizadores, que são imensamente reveladoras da natureza do duo.

Nesse aspecto, os londrinos pouco têm a esconder, atirando-se, depois das notas introdutórias, à música cujas melodia e batidas pediram emprestadas a Sade Adu, a enternecedora Sweetest Taboo, que mostra o fraco que nutrem pelo R&B e pelo jazz mais suave, comummente encarnado nas vozes femininas, géneros que assentam tão bem à natureza tímida e cheia de ecos de Inga e à vontade de desconstruir de Roy.

Passados 50 minutos, salvo qualquer erro de cálculo, estes senhores, dono de uma pop afastada de multidões, abandonaram o público a um dos seus retalhos em loop, para não mais regressarem. Não foi por falta de vontade dos presentes, que não abandonaram os seus lugares até o silêncio total regressar à sala. O aplauso, de um misto de fascínio e desilusão por tão pouco tempo de Hype Williams. Caramba, ficam a dever-nos a todos um regresso.