Ter visto a Liz Harris ao vivo na última primavera, num sítio bonito como é a St. John At Hackney Church, deu-me vontade de chorar. Chorei mesmo. Acho que nessa noite eu vestia uma camisola de Proclemation, o que só ajudou à esdruxulidade daquele cenário, um matulão barbudo com lágrimas nos olhos encostado à parede de uma igreja, enfiado numa tshirt de war metal.

Foda-se.

Mas eu nunca quis ser valente, nem nunca me armei em campeão. Sou um tipo que gosta de fragilidade, em mim e nos outros. Gosto de coisas que avariam, motores que gripam, de quando o sol é substituído ao intervalo por chuva e de quando as pessoas vão abaixo. Quando quebram e assumem que as coisas não vão assim tão bem. Purifica o ambiente. É por isso que eu gosto da Liz, gosto de Grouper por sentir que ela está quase sempre à beira de se desmanchar toda do outro lado do microfone. Não que a quisesse reconfortar, que não tenho jeito, mas porque criamos uma ligação telepática nalgum sítio dificíl de identificar. Quântica? Hum.

Ela agora lançou-se com os Helen neste álbum de estreia. Com o Jed Bindeman [Eternal Tapestry] e o Scott Simmons. Não estou habituado a vê-la acompanhada, até porque a julgo solitária por opção. Não gosta de entrevistas e acho que não aprecia por aí além aqueles diálogos pós ou pré-concerto com os fãs. Mas os Helen assumem também uma fragilidade prateada ou cinzenta, cabisbaixa. A voz da Liz bem lá ao fundo num balanço assimétrico de timidez. Porque, se ela ao vivo se esconde na ausência de luz, no “The Original Faces” tapa-se com montes de reverb. Shoegazing, etimologicamente falando. Shoegaze mesmo, faixas curtas, eficazes, boas linhas de baixo e aquele senso de melodia que já vem de trás. Talvez tudo não passe de uma grande homenagem a coisas do passado, mas eu não me importo.