O sucesso, a experiência e a alta rodagem, ingredientes adquiridos ao longo de quase duas décadas de carreira, tornaram osHatebreed numa banda com contornos diferentes daquilo que habitualmente se encontra no nicho hardcore – quiçá, até, por se terem expandido para lá desse mesmo nicho.
Se em 2004, na última passagem por Portugal, os norte-americanos dispensaram a presença de grades e seguranças, desta vez esses elementos estiveram por Corroios, o que acabou por diminuir um pouco aquele feeling de proximidade e união, apanágio recorrente de um concerto deste estilo. Ainda assim, e apesar de uma sala transformada em sauna, a pujança de Hatebreed foi mais do que suficiente para saldar vitoriosamente a visita a terras portuguesas.
A forte dupla composta por Straight To Your Face e Never Let It Die serviu de tiro de partida para quase uma hora e meia de performance. Com um som que, ao início, pareceu demasiado baixo – foi melhorando, mas a voz de Jasta esteve quase sempre abafada pelos outros instrumentos -, os Hatebreed conseguiram colocar o Cine-Teatro em ponto de ebulição logo de rompante, principalmente (e não deixa de ser curioso) através das faixas do self title, que, dois anos depois do seu lançamento, já se entranhou por completo na massa adepta dos norte-americanos. Foi rara a voz que não se ergueu no refrão de In Ashes They Shall Reap ou o corpo que não se movimentou com o groove de Everyone Bleeds Now.
Ponto de ebulição não será uma expressão assim tão hiperbólica quanto isso, já que o calor atingiu níveis perto do insuportável. Ainda o concerto ia a meio e grande parte da plateia estava literalmente ensopada em suor, com Defeatist e A Call For Blood a incitarem os presentes a visitar o incessante moshpit. Jasta, envergando uma t-shirt dos portugueses Death Will Come (que abriram para Hatebreed na noite anterior, em Vigo), mostrava-se satisfeito ante a recepção portuguesa e foi distribuindo elogios nas curtas pausas entre as faixas. A maior surgiu quando Jastainformou a assistência de que Matt Byrne, o baterista, fazia anos, o que deu direito a um Happy Birthday sonoro.
Avançando o concerto, a banda tratou de recuperar os primórdios, não olvidando inclusive Satisfaction is the Death of Desire, o primeiro álbum da carreira, lançado em 1997. Before Dishonor eBurial for the Living puxaram veementemente os fãs mais old school para a frente, não os deixando recuperar fôlego, pois o breakdown desumano de Proven e a robustez de Perseverancesoaram a tudo menos a tréguas. Com os calendários já situados no mês de Setembro, chegava a hora das emblemáticas This Is Now eI Will Be Heard, duas faixas que, com wall of death à mistura, absorveram as últimas parcelas de energia da plateia.
Ou não. Quando alguns já se desmobilizavam, obrigados pela música de fundo que logo foi colocada, ouviu-se Jasta a perguntar se ainda queriam mais. Ninguém rejeitou a hipótese e o riff de Live For This ecoou pelo Cine-Teatro ainda a abarrotar, num concerto que definitivamente terminou com a apoteótica Destroy Everything.
A abrir o serão estiveram três bandas. Os catalães Anal Hard foram os primeiros, eles que regressaram ao Cine-Teatro quase um ano depois de ali terem aberto para Madball e Sick Of It All. Nessa noite, o público português mostrou-se indiferente e, desta vez, a reacção foi igual ou pior. O hardcore dos espanhóis não encanta e, mesmo com a chuva, houve quem preferisse ficar lá fora.
Os Reality Slap conseguiram arrancar os primeiros moves da plateia. Habituados a armar o caos em salas pequenas, os portugueses lidaram bem, ainda assim, com as dimensões e com as grades do Cine-Teatro. Enter The Devil e Brainfreeze fazem parte do léxico do hardcore nacional e o novo álbum que se avizinha, Necks N’ Ropes, promete seguir as boas pisadas de My Brother Evil, segundo aquilo que foi dado a ouvir aos presentes.
Quanto aos Switchtense, poucas dúvidas restam. Actualmente, são das bandas nacionais com mais impetuosidade ao vivo e isso confirmou-se em pleno na actuação de Corroios. A confusão que instalaram na plateia com faixas como Into The World of Chaos ouUnbreakable, cujas letras são já do conhecimento de muitos, serviu de exemplo para aquilo que o grupo português consegue almejar quando pisa o palco.