Hum. É engraçado olhar para os Harm’s Way: começaram na palhaçada a fazer powerviolence supra rançoso para logo descobrirem no hardcore rubicundo – vamos cruzar os Sepultura com o metalcore de afinações graves que a Victory enamorava nos 90s – a sua casinha de sorriso frio. Depois, quando a Deathwish Inc. lhes deu guarida, o calendário marca agora dois anos, meteram as fichinhas nos Godflesh – andaram por aí a abrir concertos com a “Like Rats” – e nos riffs de gola alta (que o frio de Chicago aperta) à Bolt Thrower. Eram putos de mãos a abanar, cresceram, trocaram de epigramas, a maioridade chegou. Acontece a todos.
Mas os Harm’s Way não são só uns cromos de fotocopiadora na mão e cabelo à escovinha. Que a Deathwish lhes tenha mostrado luz verde não foi insolente – “Isolation” foi o merecido backstage access. Esse disco, dissemo-lo em 2011 (que não andamos a dormir), tinha os chocalhos em ponto rebuçado: produção badalhoca, groove de dobradiças oleadas, um James Pligge de nos partir a boca toda e flanelas noise como se tivessem pago o jantar aos Full Of Hell num TacoBell do Midwest – enfim, um tornado de lixo não reciclável que meteu gente a moshar como se fosse outra vez 1999. “Isolation” é um grande álbum. Ponto.
“Rust” não é. A produção está mais trabalhada que uma Victoria Angel e isso, num disco de hardcore, é tipo comer gelado d’atum ou um bolinho de polvo. O groove, de tão retocado, faz-nos andar à cata do Ross Robinson nos créditos. Nada. Está o Andy Nelson na produção, o Kurt Ballou pela mixagem e o Brad Boatright a tomar conta da masterização… What? O que correu mal? Porque raio a primeira malha nos faz pegar no comando para enfiar o “Headbangers Ball” e os Slipknot em mute?
Os grandes breakdowns de Harm’s Way viraram uma tshirtzinhadesbotada de Fear Factory com o “Digimortal” na frente – “Hope”, no final, é um bichinho acérvulo que nauseia pelo despropósito. As ideias foram para o galheiro. E se o EP “Blinded”, que lhes oficializou o baptismo na Deathwish Inc., fez acreditar em bonitos futuros – “Live To Loathe” é, sem tirar no pôr, o contexto natural e absoluto de Harm’s Way, com a electrónica a apontar-lhes o El Dorado –, “Rust” é um Mansa Musa enforcado de abutres a depenicar-lhe o fígado. Carcomido, um esqueleto em bis perpétuo. As malhas, quase todas, são filhas de um matrimónio consanguíneo. Quase todas, pois “Disintegrate” salva-lhes as fuças e “Turn To Stone” esconde Emily Jancetic. Por tal, ainda consegue ser decente, vá.