“Há uma cultura que não se vende em prateleiras de hipermercado…” – é a declaração de encerramento da apresentação da Fade In. Num tempo em que até propostas programaticamente interessantes estão mergulhadas na inconsciência da normalização agressiva, a frase é bem mais que um apontamento de estilo, é um verdadeiro manifesto.
O epíteto de “festival gótico” mantém-se mas, um pouco como tem vindo a acontecer nos anos mais próximos, há bem mais que isso em Leiria. Não que a limitação estilística fosse em si um handicap mas a diversidade neste contexto enriquece ainda mais a já habitual romaria negra de fim de Agosto em direcção ao estonteante Castelo de Leiria.
Estendendo-se de 25 a 27 de Agosto, um dos principais destaques vai para a estreia absoluta dos germânicos Die Krupps em território português, seminal colectivo liderado por Jürgen Engler. Inicialmente um dos nomes mais reconhecíveis do EBM europeu, o som dos alemães foi progredindo com aproximações mais evidentes ao Metal. Após um interregno nos anos 90, os últimos anos têm visto um regresso ao trabalho original e será com V – Metal Machine Music do ano passado na bagagem que os alemães procurarão honrar uma história de 36 anos.
No mesmo dia (26), haverá mais um reencontro com o passado desta feita com os erráticos Sex Gang Children, uma das mais reconhecidas (e reconhecíveis) bandas da cena Batcave. Donos de um legado absolutamente gigantesco no estabelecimento do Gothic Rock a banda sempre liderada pela figura icónica de Andi Sex Gang apresenta-se com o alinhamento original, um pequeno milagre dadas as inúmeras alterações e separações pelas quais a banda foi passando.
Se de muita história se faz o segundo dia, o primeiro (25) terá em Grausame Töchter um cabeça de cartaz que “compensa” a juventude (fundados em 2009) com uma radical experiência estética. A componente fortemente performativa da banda é claramente marcada pela figura de Aranea Peel mas os alemães vivem bem mais do que o apelo sexual introduzindo elementos arrojados à mistura de EBM e Industrial.
O último dia é marcado pelas visita de Vive La Fête, Kite e Corpo-Mente. Estes últimos em estreia absoluta em Portugal representam o regresso de Gautier Serre e Laure Le Prunenec a Portugal depois da devastação de Igorrr no Entremuralhas do ano passado. Trip-hop de características praticamente ímpares com viagens que tocam as estruturas (ou falta delas) do Prog Rock numa performance que se aguarda multi-facetada e desafiante.
Além dos nomes de proa aqui destacados, há que relembrar a totalidade que todos os Entremuralhas encerram, num cuidado esforço de verdadeira curadoria. Adicionando tudo isto e o mais belo local do país para fazer concertos do género, nada faltará para mais uma edição memorável.