Massless é, obviamente, um álbum de Sacha Dunable, frontman dos Intronaut. Melodicamente, as explorações deste trio são em muito semelhantes ao trabalho mais conhecido do seu vocalista, mas é aqui que as suas composições parecem ganhar uma identidade própria. Dunable acertou na fórmula certa de tocar as suas músicas, e essa é, deveras, uma surpresa.
Dizem que o homem não se mede aos palmos; isso aplica-se, em certa medida, à força que este apresenta, uma regra que serve para quase tudo. Foi na força bruta que os Graviton hipotecaram, deixando as suas apostas para a beleza do som. Num equilíbrio belo, quase sensual, entre um folk ligeiro e um doom preciso, lento e de corpo bem definido, em que a guitarra acústica é uma parte integrante da riffaria mais pesada durante a maior parte do tempo, o trio assume, ainda, uma postura que consegue juntar ao som de Dunable elementos que, à partida, são antagónicos, elevando a banda além daquilo a que se propõe através de alguns toques típicos do blues, da electrónica e mesmo roçando alguns tiques mais dos Animal Collective. Tudo isto sem nunca estragar o pacote todo. No fundo, as melodias tornam-se mais evidentes sem nunca perder a carga negativa da estrutura atómica e explosiva dos Intronaut.
Há um equilíbrio químico entre os elementos acústicos e os eléctricos, que, na verdade, é bem mais refrescante do que as progressões dos Intronaut. E, aqui, merece ser feita a distinção entre os dois projectos e deixar este último e, sim, mais sonante mas menos eficaz, no canto do peso. Graviton tem pernas para cativar os fãs do pós-doom e ainda chegar aos que não toleram distorções a mais.
Parece que Dunable, para fazer um álbum do caraças, precisava mesmo de alguém que lhe desse cabo do campo gravitacional. Muitas coisas saíram dos eixos e tomaram órbitas estranhas em Massless, mas este não é um álbum de anti-matéria, coisa indefinida e impressiva: é precisamente tudo o que está fora do sítio que embeleza o que é feito segundo as regras.