Deep Politcs não traz grande novidades nas maravilhas do trabalho de Grails. É que, exactamente, continua tudo maravilhoso e inebriante, os ambientes continuam transcendentes, maiores do que o próprio homem, e a isso, os rapazes de Portland ainda acrescentaram o método do rapper e produtor MF Doom, que resultou, sem sombra de dúvidas, no melhor disco da sua carreira.
Estas conclusões são precipitadas, sempre, mas o melhor é tentar perceber o que é que faltava fazer na música do quarteto norte-americano – e enquanto esse exercício se desenrola, posso desde já antecipar que os caminhados dos Grails, rumo ao oriente profundo, não trouxeram menos do que músicas incríveis e assombrosas. Não trouxeram menos do que o últimoDoomsdayer’s Holiday, uma ode aos Pink Floyd cheia de índia, de metal, de lentidão e, claro, de melodias arrepiantes e alucinantes.
Nas suas viagens pela psique de toda a humanidade, os Grails chegam a um método único e que leva as conquistas da banda para outra dimensão, o feito de dominar de forma impressionante todas as dinâmicas da música de forma pouco tradicional e deveras envolvente. O “processo fetichista de corte e cola” de MF Doom e de RZA, nomes lendários do hip hop, a que recorreram já durante a fase de produção, permitiu-lhes adaptar a estrutura das músicas a narrativas menos lineares e de levantar a fasquia da sua música instrumental e levá-los a quebrar mais uma barreira de géneros, aproximando-os da música electrónica, em All the Colours of the Dark e Corridors of Power (principalmente), sem os afastar da sua essência.
Esta característica, ainda que transversal a todo o trabalho, é tão nítida em Almost Grew My Air que se torna assustador: quando, no explorar tão típico da melodia de guitarra acústica, nos surge uma guitarra eléctrica e completamente electrificante com uma melodia que normalmente representaria o culminar de um crescendo.
Aqui, surge antes como o crescendo e como o seu próprio culminar, volatilizando a música, algo que também acontece de forma sufocante no primeiro single a ser avançado, I Led Three Lifes, que nos grita, fugazmente, um clímax bem a meio da música, que, surpreendentemente, os Grails ainda conseguem repetir e dissecar de forma minuciosa, sem lhe tirarem qualquer dos encantos.
Claro, todo o Deep Politics tem a típica composição do Grails, que não deve ser ignorado, e o trabalho maravilhoso de Timb Harris, dos Secret Chiefs 3, nos arranjos de cordas, que estão solenemente soberbos e perfeitamente encaixados nos desenvolvimentos melódicos dos norte-americanos, que, como sempre, continuam riquíssimos. Também isto fica claro desde o início. Quase fazendo finca-pé e deixando clara a sua marca, o violino de Harris ouve-se nos primeiros minutos do disco, emFuture Politcs, com grande impacto.
Esta combinação, de melodias transcendentes com música pesada e bases harmónicas sólidas, que sempre marcou o caminho único dos Grails, aliado aos métodos de corte e cola completamente descaracterizador das gravações originais, que marca o trabalho do rapper MF Doom, permitiu ao quinteto controlar todas as fases e dinâmicas das suas músicas, deixando-nos, ouvintes, indefesos, nas mãos destes senhores.
Tudo a que a música nos faz sentir, a ouvir Grails, foi completamente premeditado pela banda e pelos seus golpes na timeline. E, caramba, isso é soberbo! Não é só soberbo, como é também um dos feitos do ano. Reservem um lugar nos tops.