Parece formar-se um padrão nos conjuntos de “Black Tar Prophecies”: as duas primeiras foram lançadas isoladamente (uma delas num split com Red Sparowes) e a terceira apenas surgiu em “Black Tar Prohecies 1, 2 & 3”; agora, a 4ª saiu em 2010, a 5ª há menos de um ano, num split com Pharaoh Overlord, e a 6ª é novamente material inédito.
Importa relembrar que, falando de Grails, não se fala de post-rock: mesmo o álbum de estreia, “The Burden of Hope”, continha músicas manifestamente curtas para este género (talvez porque “Yanqui U.X.O”, dos GY!BE, encerrara um ano antes a era dos épicos de post-rock), e a cover da “Space Prophet Dogon” dos Sun City Girls revelava um interesse por outras sonoridades. No decurso da prolífica tradição de lançar um álbum por ano (apenas abalada em 2009, quando Emil Amos se estreou nos OM com “God Is Good”), em 2005 foi editado um pequeno EP com três covers de músicas psicadélicas do início dos anos 70, dando indícios de uma mudança de direcção que se manifestou, precisamente, em “Black Tar Prophecies 1, 2 & 3”. Essa diversidade manteve-se desde então, mas algo que distingue as “BTP” é a música menos pensada, mais experimental, menos focada na criação de um álbum e mais num simples desenvolvimento de ideias que são posteriormente refinadas em pós-produção, seja com samples, efeitos ou overdubs.
“Black Tar Prophecies 4, 5 & 6” começa de uma forma inesperada para um álbum de Grails: um coro masculino a cantar os primeiros versos de “Nobody Knows The Troubles I’ve Seen”. Sabendo que o género dos spirituals está fortemente associado à escravatura dos negros norte-americanos, o ambiente que se sucede, vazio, desolador, marcado por sons percussivos, sintetizadores e vozes abafadas, é francamente desconfortável. Encerra com um sample de um padre americano perguntando “Can philosophy lift man out of the cesspool of this life?”, mas regressa-se mais tarde a esta música, com “New Drug II” – com mais samples de voz, desta vez uma colagem de passagens bíblicas. A 2ª música do álbum, por outro lado, apresenta já um rock convencional (isto é, pelos parâmetros dos Grails) e assegura-nos de que a banda não vai escapar excessivamente da sua zona de conforto. A presença do piano em “Up All Night” (não “to get lucky”, como os Daft Punk, mas com uma questão na cabeça a causar insónias) e em “A Mansion Has Many Rooms”, no meio de harmonias sublimes, é muito bem-vinda, mas é bastante difícil destacar pontos altos num álbum tão sólido.
Quanto às novas músicas, “Invitation To Ruin” não facilita a tarefa de compreender onde acaba o som analógico dos instrumentos e começa a síntese sonora, mas a melancolia, essa, é inequívoca; “Corridors Of Power III” continua a desenvolver uma das músicas de “Deep Politics”, de 2011 (em caso de dúvida, a “Corridors Of Power II” sobrou para os Lilacs & Champagne, projecto paralelo de Emil Amos e Alex Hall); e “Penalty Box” apresenta algumas melodias com breves rasgos orientais que emergem de um oceano de puro som, num misto de drone e psicadelismo. Tudo bom, e tudo Grails.