O estilo único de Gogol Bordello, baptizado de Gipsy Punk, voltou novamente a Portugal. O palco foi o do Campo Pequeno, no dia 7 de Março, depois do concerto da véspera no Coliseu do Porto. E o regresso foi explosivo, mas nada que já não se esperasse. O pretexto foi a divulgação do mais recente álbum, Trans-Continental Hustle, trabalho este já apresentado no ano passado e que, a julgar pelas pessoas que se reuniram nesta noite fria e chuvosa de Março, agradou tanto a juniores como a seniores.

O Campo Pequeno demorou a encher, com a maior parte das bancadas vazias mas que também não chegaram a ser ocupadas. Não porque não houvesse interesse, por parte do público português, em assistir a mais um espectáculo desta banda electrizante, mas sim porque a experiência só é total se houver espaço para saltar, dançar, empurrar e esbracejar. Assim, por volta das 22h00, depois do concerto de abertura com Che Sudaka, a arena estava apinhada de fãs ansiosos com a certeza da festa que se aproximava.

A refeição dessa noite foi completa. Para a entrada, os sul-americanos Che Sudaka serviram o seu misto de ska, reaggae e rock. Energia em palco, boa disposição e muito carisma foram o acompanhamento. Se o objectivo da entrada é o de abrir o paladar para os pratos seguintes, os Che Sudaka cumpriram-no e superaram-no. Foi debaixo de fortes aplausos que a banda residente em Barcelona deixou o palco para dar lugar a Gogol Bordello.

Depois desta entrada, já havia uma boa quantidade de pernas cansadas, é impossível negá-lo, mas o estômago estava ainda no aquecimento. A tão ansiada subida ao palco dos membros de Gogol Bordello dá finalmente continuidade à refeição, um banquete de música cigana, punk, folclore do leste europeu, ska e outros que tais, servido com violino, acordeão, uma data de guitarras e batuques e sem esquecer, claro está, o ingrediente fundamental, a cereja no topo do bolo: o espectáculo que não envolve instrumentos, isto é, a dança, a correria, as macacadas e todo o ambiente festivo criado em palco, tão intenso quanto aquele que se fez sentir na plateia. E apesar das músicas se sucederem umas às outras quase ininterruptamente, Eugene Hütz (líder da banda) consegue manter a ligação com o público, gritando uns “Tudo bem Lisboa?” e alguns palavrões treinados em português. Mas não é só Hütz que se conecta com a plateia, sendo incríveis os esforços (quase desnecessários, dado o espírito com que os presentes já vinham) que os restantes membros da banda demonstram para incentivar e instigar a alegria e confusão.

Duranto o concerto, que contou com mais de 15 temas interpretados, Trans-Continental Hustle é bem representado. Do álbum destacaram-se Last One Goes The HopeTo Rise AbovePala Tute e Break The Spell, canções que levaram o público ao rubro, com direito a mosh e outros movimentos frenéticos, perucas e alguns balões de água a sobrevoar o recinto e ainda algum crowdsurfing. Mas este não seria um concerto de Gogol sem alguns temas dos trabalhos anteriores, como Alcohol,American Wedding e Start Wearing Purple, esta última gritada a plenos pulmões, já no final do concerto, por uma audiência aparentemente incansável.

A despedida, depois de um encore com 5 canções, dá-se com o provável reconhecimento dessa atitude do público português, através do agradecimento de Eugene Hütz, que se afirma fã dos presentes. Para encerrar a noite, entram de novo Che Sudaka, que, com todos os membros de Gogol Bordello, enchem o palco e contribuem para um dos pontos mais altos da noite, quando já se pensava ser impossível algo maior que os momentos que já tinham sido vividos. De facto, sair do recinto foi como escapar de um caos, mas um caos sem dúvida feliz.